segunda-feira, 30 de junho de 2025

Dostoiévski pode ajudar a repensar suas certezas sobre SST

Estamos próximos das eleições e os ânimos começam a se acirrar (não se preocupe, que não vou falar sobre candidatos), mas gostaria de comparar os extremismos da atual política no Brasil com os extremismos na Segurança do Trabalho.

Professor, acho que o senhor está exagerando. Não é nem parecido!

– Será, meu filho? Posto diariamente materiais nas diversas redes sociais e vejo que alguns temas são delicados e geram reações agressivas, com palavras de baixo calão e descontentamento.

Quais são esses assuntos que geram tanto alvoroço virtual?

– São diversos, posso citar alguns como: a garantia de emprego da CIPA (odiada e amada por muitos), a briga eterna do Q3 e Q5 (essa hoje um pouco menos exaltada), a obrigatoriedade de SESMT nas empresas ou a possibilidade do SESMT terceirizado, dentre muitos outros. Além dos temas de SST que elevam a temperatura, outro ponto que percebi causar uma reação a muitos prevencionistas é quando alguém resolve dar sua opinião sobre temas não relacionados a área, já recebi algumas vezes a seguinte crítica: até gosto dos textos do professor Mário, mas ele tem que falar sobre Segurança do Trabalho, não tem por que tratar de outras temas como vacina, política ou machismo no Brasil, temas que já tratei e “apanhei” (mas sejamos justos, também tive muito apoio).

Quer dizer que muita gente acha que o senhor não pode dar sua opinião?

– Exatamente! Todos têm o direito de dar a sua opinião, mas essa intransigência é péssima para os prevencionistas, pois o sentimento de estar com a razão e ter dificuldade de ouvir a opinião diferente da sua tem como consequência a proliferação de profissionais que acreditam já saber e de não precisar ouvir os outros.

Professor, realmente é uma visão limitante, pois quanto mais estudo, mais percebo ter dúvidas e deficiências na minha formação o que acaba me estimulando a estudar mais e ouvir outros profissionais. Lógico que com senso crítico, mas com respeito.

– Perfeito, meu filho. Essa visão de alguns profissionais de verdadeira servidão às suas convicções me fez lembrar de um trecho do clássico “Os Irmãos Karamázov” do inigualável Dostoiévski, onde Ivan Karamázov, conta uma história ao irmão Aliocha sobre a dificuldade da liberdade do homem.

Para o homem, uma vez livre, não há preocupação mais constante, mais dolorosa, do que encontrar, com a maior rapidez, “a quem adorar”. Contudo o homem só deseja adorar o que é indiscutível, o que é adorável para todos, de forma unânime. (…) Em nome desse sonho da adoração comum, eles se exterminam por meio das guerras. Cada povo cria o seu Deus – ou os seus deuses -, cada povo grita um ao outro: “Deixem os seus deuses, e venham logo adorar os nossos deuses! Senão, morte a vocês, e aos seus deuses!”

Na próxima vez que você ler algo sobre Segurança do Trabalho ou mesmo sobre outros temas que lhe faça subir o sangue e lhe puxe o indicador para clicar no CapsLock para defender os seus deuses, lembre-se de que pode ser apenas uma reação à dor do machucado da corrente presa à sua verdade não deixando você caminhar e lhe impedindo de afastar da escravidão da sua certeza.


O blog Segurito na Proteção trata de questões relacionadas à SST. É editado pelo professor Mário Sobral Jr, que é Mestre, engenheiro de Segurança do Trabalho, especialização em Higiene Ocupacional e Ergonomia e Editor do Jornal Segurito.
mariosobral@jornalsegurito.com

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