Guarujá/SP – O governador Geraldo Alckmin anunciou, nesta sexta-feira (22), uma multa de R$ 10 milhões que será aplicada contra a empresa Localfrio pela emissão de `efluentes gasosos tóxicos para a atmosfera e por riscos e danos à saúde da população`, após um vazamento de gás seguido de incêndio, no dia 14 de janeiro deste ano, em Guarujá, no litoral de São Paulo.
A empresa será notificada pela Agência Ambiental de Santos da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). Segundo o relatório dos técnicos da Cetesb, a ruptura de um contêiner contendo 20 toneladas do produto dicloroisocianurato de sódio dihidratado permitiu a entrada de água das chuvas que, numa reação química, causou o incêndio. O fogo que atingiu 66 contêineres.
Ainda segundo o órgão ambiental, a fumaça tóxica atingiu os moradores do bairro, que foram obrigados a deixar suas casas, além de moradores do restante de Guarujá, Santos, Cubatão e São Vicente.
Segundo o Governo do Estado de São Paulo, foram registrados 170 casos de atendimento nos centros médicos. A interrupção da travessia das balsas marítimas Santos/Guarujá e o fechamento do Porto (canal de navegação) e de estabelecimentos comerciais e industriais da região também trouxeram prejuízos à população.
ENTENDA O QUE ACONTECEU
– Choveu forte na região no Porto de Santos
– Alguma estrutura nos contêineres do pátio de armazenamento provavelmente cedeu
– A água da chuva entrou em contato com uma carga de um produto à base de cloro (ácido dicloro isocianúrico de sódio)
– Da reação química, surgiram focos de incêndio e a nuvem tóxica
– A fumaça causa irritações de pele e de olhos e, caso seja inalada, também nos pulmões
Combate a incêndios
O trabalho foi feito por várias equipes que se dividem para resfriar o conjunto de conteinêres e também atuavam no combate individual em cada um deles. Os bombeiros utilizaram 23 viaturas, um navio e um rebocador para captar a água do mar no combate ao incêndio.
Várias áreas do complexo portuário precisaram ser evacuadas. A fumaça rapidamente se espalhou pela cidade de Guarujá e fotos registradas por moradores mostravam a Avenida Santos Dummont, a principal do município, coberta por uma névoa.
Por volta das 22h de quinta-feira (14), a fumaça já tinha se espalhado pelas cidades de Guarujá, Santos e São Vicente e invadido várias casas ocasionando problemas respiratórios nos moradores.
A fumaça também invadiu o Pronto Socorro de Vicente de Carvalho. Os pacientes que estavam internados foram transferidos, juntamente com as equipes e ambulâncias, para a UPA Boa Esperança, na Rua Alvaro Leão de Carmelo, onde a Secretaria de Saúde de Guarujá afirmou que os pacientes terão tratamento especializado.
Efeitos da fumaça
As pessoas atendidas apresentaram ardência nos olhos ou mal-estar ocasionado pela fumaça.
Segundo Flavio Zambrone, médico toxicologista e professor aposentado da Unicamp, “o produto é extremamente tóxico”. Ele produz irritações de pele e de olhos e, caso seja inalado, causa irritação também nos pulmões.
“É um produto à base de cloro. Ele é estável, mas tem alto teor de cloro, que se dissolve na água. Por isso, outro problema será a questão ambiental que virá depois”. Segundo o professor, o produto é usado na maioria das vezes em desinfecção de água, mas em grandes quantidades passa a ser tóxico.
Vários moradores recorreram a equipamentos de proteção. “As máscaras acabaram nos postos e nas farmácias. Consegui pegar uma das últimas. Tem muita gente passando mal por causa da fumaça”, afirmou a doméstica Maria Rita.
O engenheiro Felipe Pavan, de 27 anos, que trabalhava na Santos Brasil no momento do acidente, conta que ninguém entendeu o que estava acontecendo quando o produto começou a vazar.
“Fomos orientados a ir ao local de resgate. O problema é que estava tudo tomado por fumaça. Depois orientaram a sairmos por outra área. Nos disseram que era amônia e nitro álcool. Nunca tinha visto uma emergência dessas”, disse.
Quem precisou de atendimento médico por irritação nos olhos, dificuldades de respirar, tontura ou náuseas procurou as UPAs Boa Esperança, Rodoviária e Enseada.
Áreas evacuadas
Por conta do vazamento, a orientação era para que as pessoas que morassem em um raio de até 100 metros próximo ao local – ou seja, pessoas que residem no quadrante das avenidas Alvorada, Adriano Dias dos Santos, Santos Dumont e Rua Santidade Papa Paulo VI, além do Sitio Conceiçãozinha – procurassem a casa de amigos ou parentes.
A evacuação foi pedida pela prefeita de Guarujá, Maria Antonieta de Brito (PMDB).”A situação é grave. Quem está nos quarteirões próximos ao local deve deixar as casas imediatamente. Os moradores precisam ir para a casa dos vizinhos e ficar longe do local da explosão. Quem estiver em casa, a orientação é pegar panos secos e colocar nas portas e janelas. Não saiam de casa. Se o morador se sentir mal deve procurar a UPA imediatamente. Cuidado com a chuva, porque ela contém elementos químicos e pode queimar a pele”, afirmou a prefeita.
A assessoria de imprensa da Dersa, empresa responsável pelas travessias entre Santos e Guarujá, afirmou que a travessia de pedestres entre Vicente de Carvalho e a Praça da República foi temporariamente suspensa no final da tarde desta quinta-feira, por conta do acidente, mas foi liberada cerca de uma hora depois.
O incêndio terminou 37 horas após o vazamento de gás ter ocorrido no Distrito de Vicente de Carvalho. As chamas acabaram depois de o Corpo de Bombeiros começar a abrir os últimos contêineres em chamas para lançar água em seu interior.
Os órgãos que atuaram no incêndio que atingiu o terminal de cargas da Localfrio continuam os trabalhos para identificar os gases que foram lançados na atmosfera por causa do acidente.
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