quarta-feira, 18 de junho de 2025

Eternit é condenada por expor trabalhadores ao amianto

Data: 02/03/2016 / Fonte: MPT/São Paulo

São Paulo/SP – A empresa Eternit foi condenada a oferecer tratamento de saúde integral e vitalício a todos os ex-empregados e familiares expostos ao amianto durante as atividades da unidade de Osasco (SP). A substância é reconhecida como cancerígena pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A sentença é da 9ª Vara do Trabalho de São Paulo, em ação do Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP).

Os procuradores do Trabalho Luciano Lima Leivas e Márcia Kamei López Aliaga, integrantes do Programa Nacional de Banimento do Amianto do MPT, esclarecem que a sentença não condiciona a responsabilidade da empresa pela saúde dos trabalhadores à prova de que a doença ocorreu pela exposição ao amianto. Porém, no caso dos familiares, o acesso à cobertura depende de diagnóstico de doença relacionada à exposição ao amianto. Outra questão que merece destaque, segundo os procuradores, é que não há prazo de prescrição e de decadência desses direitos, pois o desenvolvimento de doenças relacionadas ao amianto pode ocorrer décadas após o fim da exposição à substância.

A decisão também prevê o pagamento de R$ 100 milhões a título de danos morais coletivos. O dinheiro deverá ser destinado às instituições que desenvolvem ações relacionadas aos danos ligados ao amianto. Segundo o MPT, numa amostra de 1 mil ex-trabalhadores, avaliados pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Medicina e Segurança do Trabalho (Fundacentro), quase 300 adoeceram por contaminação do amianto. Destes, 90 morreram por graves doenças respiratórias, entre 2000 e 2013, mas o número pode ser muito maior, já que a Eternit ocultou ou dificultou a ocorrência de vários registros.

Reparação – Ação semelhante foi ajuizada pela Associação Brasileira de Expostos ao Amianto (Abrea), que como o MPT, também reclamava da atuação irregular da Eternit em Osasco. A entidade foi criada há 21 anos, para defender os direitos e a indenização dos mais de 10 mil trabalhadores prejudicados nos 52 anos de funcionamento da indústria em Osasco.

No processo da Abrea, a Justiça determinou o pagamento de R$ 300 mil a cada trabalhador atingido. Os já doentes recebem mais R$ 80 mil por dano moral existencial – aquele dano permanente que restringe projetos de vida e o convívio social. A indenização também será paga a filhos e viúvas de ex-trabalhadores mortos. Outros R$ 50 mil serão pagos a título de danos morais a cada ex-empregado exposto ao amianto que ainda não tenha sido diagnosticado com doença relacionada à exposição.

Viúvos (as), companheiros (as) e filhos inválidos de trabalhadores falecidos, receberão uma pensão mensal equivalente a cinco salários mínimos devida até a data em que o trabalhador completaria 70 anos ou até os filhos inválidos completarem 25 anos.

“A repercussão pública dos adoecimentos ultrapassa ainda o aspecto financeiro, pois os efeitos atingem também a organização familiar e a convivência de um número de pessoas ainda incerto, de famílias em que filhos perdem seus pais, tem de lidar com a morte precoce e muitas vezes dolorida, como nos casos de câncer, ou ainda com a incapacidade prolongada e progressivamente limitante em situações de graves doenças respiratórios, como o conhecido `pulmão de pedra’ “, destacou a juíza Raquel Gabbai de Oliveira, que analisou as duas ações contra a Eternit.

Reincidente – A Eternit também é alvo de outra ação do MPT por fabricar produtos à base de amianto no Rio de Janeiro, na unidade do bairro de Guadalupe. A companhia também é investigada por suspeita de irregularidades nas fábricas de Colombo, regi    ão metropolitana de Curitiba, no Paraná, e em Simão Filho, na Bahia.

Em 2013, os empresários da Stephan Schmidheiny e Louis de Cartier – os fundadores da Eternit no Brasil – foram condenados pelo Tribunal de Turim, na Itália, a 16 anos de prisão por crime de homicídio doloso. Eles foram julgados por fabricar produtos de asbesto na cidade de Casale Monferrato (ITA), nos anos de 1976 a 1990. A atividade teria provocado a morte de 258 pessoas por mesotelioma, um tipo câncer ligado à exposição ao mineral.

O funcionamento da multinacional na Itália também teria causado a morte de 2,1 mil pessoas e o adoecimento de outras 800 em várias localidades do norte do país. Ao final do processo, os dois foram absolvidos pela Corte de Cassação de Roma, sobe a defesa de que o delito havia prescrito.

Leia mais:
Eternit é obrigada a diminuir riscos com amianto
STF mantém ação de R$ 1 bi do MPT contra Eternit
Eternit deve pagar indenização por exposição ao amianto
Eternit pode ser condenada a pagar R$ 1 bilhão
Itália condena dono da Eternit a 18 anos de prisão

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

Artigos relacionados