sexta-feira, 20 de junho de 2025

Descaso com prevenção é uma constante nos últimos governos

Data: 04/08/2010 / Fonte: Revista Proteção

Foto: Beto Soares/Revista Proteção


2010 é ano de eleições e, mais uma vez, voltam-se as atenções para as propostas e as mudanças esperadas para a Saúde e a Segurança do Trabalho. Daqui a dois meses, no dia 3 de outubro, iremos es­co­lher nossos representantes no governo e precisamos ter em mente que futu­ro queremos para a SST. Por isso, é importante lembrar o que alguns deles já pro­me­te­ram. Na última corrida presidencial, por exemplo, o presidente Lula reco­nheceu que a saúde do trabalhador e a ­Segurança do Trabalho eram questões técnicas e políticas. Ele afirmou, em entrevista à Revis­ta Proteção na época, que o as­sunto deve­ria ser tratado com muita res­ponsabi­li­dade. “Entendemos que é preciso, com a maior urgência, reestru­tu­rar e fortalecer os órgãos do Governo res­ponsáveis por esse setor”, afirmou. A­lém disso, prometeu interligar os ­esforços do Ministério do Trabalho e da Funda­centro, do Ministério da Previdência Social, do SUS e da Vigilância Sanitária. “Esses órgãos não podem continuar isolados uns dos outros, como acontece atualmente, devem trabalhar integrados para aumentar a eficiência das suas ações”, assinalava o então candidato Lula.

O que vemos hoje, porém, é que muitas pro­messas não foram cumpridas e a área continua com questões pontuais a serem resolvidas. Certamente por esta razão é que a pesquisa realizada e publicada pelo Anuário Brasileiro de Proteção 2010 mostra que os profissionais andam desgosto­sos. Em um levantamento que envolveu 1.225 prevencionistas, 50,4% deles avalia­ram as ações governamentais ligadas à SST de forma negativa; 39,95% como regular, e 10,61% como po­sitiva.

A esperança é que, ­independentemente de quem seja eleito nestas próximas eleições, a Segurança e Saúde do Trabalhador ocupe um espaço mais importante entre as prioridades do Estado. Ainda que nossa reportagem tenha procurado os três principais candidatos à presidência da República, nem Serra, nem Dilma, nem Ma­ri­na Silva apresentaram propostas especí­ficas para a área. A falta de ideias para o campo poderia ser um in­dício de que a SST segue sem ter a visibilidade que merece.

Ainda assim, a História e os especialistas sugerem que as trocas de governo, inúmeras vezes, não representam impactos – positivos ou negativos – significativos para o setor. Nas duas últimas gestões do Governo Federal – Fernando Henrique Car­­do­so, de 1995 a 2002, e Luís Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2010 -, que ­so­mam qua­se 16 anos, mudanças ocorreram, porém, ne­nhuma delas é atribuída especificamente às trocas de governo. O ­descaso, ­muitas vezes, é um problema de Estado, não de governo.

O médico do Trabalho Zuher Handar, se­cretário de Segurança e Saúde no Trabalho de 1995 a 1999, assegura que a área de Segurança e Saúde no Trabalho no Bra­sil vem evoluindo de forma significati­va desde o Governo Itamar Franco. Cada e­qui­pe de governo teve um significado nes­te processo de evolução das políticas pú­bli­cas da área, tanto na esfera do ­Traba­lho como da Saúde e Previdência Social. Para Handar, há um entendimento de que as pes­soas que estiveram à frente destas po­líticas em diversos ministérios contribuíram para dar continuidade às mudanças que estavam sendo esperadas há muito tempo. “Acho que em cada governo tivemos dife­rentes enfoques que se com­ple­mentaram nas diversas áreas: desde a a­ber­tura de participação social com a consolidação do modelo tripartite no diálogo so­cial, até a consolidação da saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde e a a­bertura de participação na Previdência So­cial”, aponta.

Para o médico sanitarista, especialista em Medicina do Trabalho e ex-­presidente da Anamt (Associação Nacional de Medicina do Trabalho), René Mendes, o ­tempo mostra que a História é feita de ­aparentes avanços e aparentes retrocessos. Como po­sitivo, ele ressalta a intenção de se buscar a compatibilização das políticas públi­cas de SST, na direção de uma política de go­verno e, às vezes, de uma política de Es­tado. Dos principais atores públicos go­vernamentais, destaca a diferença de rumos na Previdência Social enquanto segu­radora de acidentes do trabalho, na qual, a partir de diagnósticos semelhantes, as duas gestões impulsionaram-na a rumos o­postos. “A eficiência e eficácia da Segura­dora seria alcançada por meio de modela­gens que incluiriam a participação ativa do setor privado, nos primeiros oito anos des­te período, e este movimento não somente foi interrompido, como foram os es­forços concentrados para o lado do fortalecimento da seguradora estatal, enquanto monopólio”, afirma. Nesta direção, importantes mudanças ocorreram na Previdência Social, destacando-se, positivamente, a operacionalização do conceito da taxação flutuante, enquanto mecanismo de estímulo e penalização, hoje por meio do FAP (Fator Acidentário de Prevenção).

No âmbito do Ministério da Saúde, viu-se um lento desenvolvimento da participa­ção do SUS nas ações de Saúde do Trabalhador, com avanços e retrocessos, mas o grande destaque positivo é a imple­menta­ção da Renast (Rede Nacional de ­Atenção Integral à Saúde do Trabalhador), concebida e iniciada no Governo FHC. No Governo Lula, esta boa proposta foi apoia­da e ampliada, mas, Mendes fala que ­ainda e­xistem enormes vazios conceituais e ope­­racionais, principalmente, no sentido de aperfeiçoar o papel dos Ce­rests (Centros de Re­fe­rência em Saúde do Trabalhador).


Confira na íntegra na Edição 224 da Revista Proteção.

1 COMENTÁRIO

  1. Espero que a cada caminha a gente consiga várias vitórias, mas o que me preocupa e não lembro quem me falou ou li em algum artigo que estão tentando extinguir a nossa categoria o que me diz isto é apenas boatos ou uma realidade triste, devastadora.

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