terça-feira, 17 de junho de 2025

Audiência pública debate subnotificação de acidentes e adoecimentos envolvendo trabalhadores por aplicativo

Por MPT

Belém – O Ministério Público do Trabalho no Pará e Amapá (MPT PA-AP) promoveu na última sexta-feira (13), uma audiência pública para discutir as notificações de acidentes e os problemas de saúde que afetam motoristas e entregadores vinculados às plataformas digitais. O encontro ocorreu na sede da instituição, em Belém, e contou com a presença de representantes do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT8) e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Pará (CEREST/PA).

A iniciativa marca uma importante etapa de implementação de ações regionais do Projeto Estratégico Nacional Plataformas Digitais, da Coordenadoria de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho (Conafret). O objetivo central é ampliar e qualificar as notificações de agravos relacionados a esses trabalhadores, no âmbito do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), pelos Sistemas de Saúde.

A procuradora-chefe do MPT PA-AP, Rejane Alves, realizou a abertura do evento e destacou a importância do debate: “Precisamos construir uma solução que talvez não esteja nos manuais. Quanto mais discutirmos e informações tivermos, mais amadurecemos o conhecimento para as proposições e o fortalecimento das políticas públicas. A ideia não é atuar apenas na remediação do problema, mas na prevenção, na promoção da saúde do trabalhador”, afirmou.

Na oportunidade, o procurador do Trabalho Marcius Cruz, titular regional da Conafret, e o coordenador do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Pará (CEREST/PA), Edgard Fernando Pereira Neto, apresentaram dados e informações que enfatizam a importância das notificações.

“Vivemos no Brasil um verdadeiro apagão de dados sobre os agravos à saúde e os acidentes relacionados ao trabalho de trabalhadores que atuam nas plataformas digitais. Esse vazio estatístico, além de ocultar a realidade das condições de trabalho, impede a formulação de políticas públicas consistentes e efetivas no campo da saúde do trabalhador. A notificação sistemática e padronizada no SINAN é essencial para gerar dados mais precisos que podem ser aliados no fortalecimento da proteção de direitos e promoção de saúde desses profissionais, que muitas vezes atuam em circunstâncias de extrema vulnerabilidade, informalidade e risco”, declarou o procurador do Trabalho Marcius Cruz.

O Coordenador do CEREST Estadual, Edgard Fernando Pereira Neto, também ressaltou a necessidade dos dados. “É por meio deles que a epidemiologia consegue enxergar as necessidades de estabelecimentos de estratégias para que consigamos superar e transpor todas essas dificuldades”, reforçou.

Após as apresentações, trabalhadores, entidades sindicais, associações, entre outros participantes, compartilharam experiências e apresentaram demandas relativas à precarização do setor. Entre as principais questões estão a jornada exaustiva, falta de proteção social, exposição a acidentes de trânsito, violência, assaltos e ausência de pontos de apoio com cobertura, água potável e banheiros. “Hoje o trabalhador não tem garantia de que viverá dignamente do seu trabalho, cenário diretamente relacionado à insegurança que vivem, há degeneração das garantias sociais”, avaliou o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, Paulo Isan Coimbra Júnior, gestor do Programa Trabalho Seguro do TRT8.

“A audiência pública tem como base o compromisso do MPT com o fortalecimento da proteção à saúde e da dignidade no trabalho, visando romper com o ciclo da omissão e da normalização da precariedade. A ausência de registros adequados e sistemáticos dos agravos à saúde relacionados ao trabalho nas plataformas digitais não é uma falha técnica qualquer. É uma omissão com consequências gravíssimas, que afetam diretamente a formulação de políticas públicas, os direitos sociais, os gastos do Estado e, principalmente, a vida de quem trabalha. O evento foi mais um importante espaço de escuta ativa, articulações e construção de estratégias. Ela é o ponto de partida para que os órgãos públicos, CERESTs, VISATs, gestores municipais de saúde, hospitais e unidades de pronto atendimento, profissionais de saúde, sindicatos e entidades da sociedade civil, cada um na sua esfera de atribuição, e em parceria com o Ministério Público, exerça o seu compromisso institucional para a redução dos agravos à saúde e segurança desses trabalhadores”, explicou Marcius Cruz.

O procurador do Trabalho Élcio Araújo, titular regional da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador (CODEMAT), destacou outras ações desenvolvidas. “Pela CODEMAT estamos realizando visitas em hospitais públicos e capacitações voltadas para a questão das notificações, dentro do Projeto Nacional de Fortalecimento da Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS). Elas são desenvolvidas em parceria com CERESTs regionais e contam com a participação de dezenas de municípios abrangidos por eles. Um passo importante para a construção desses dados”, completou.

Os participantes também receberam materiais informativos, entre eles a 60º edição da revista MPT em Quadrinhos, cujo tema é “Trabalho por Aplicativos”. A narrativa traz a história de Eduardo, um consumidor assíduo dos serviços oferecidos por aplicativos de entrega. No decorrer da trama, diferentes aspectos da nova modalidade empregatícia e seus dilemas são apresentados ao público. Também foram distribuídas cartilhas que orientam entregadores e cidadãos sobre a forma de pedir ajuda ou denunciar aquilo que consideram ser violações a direitos. Uma delas é por meio do aplicativo MPT Pardal, que pode ser baixado nas lojas App Store e Google Play.

Acesse as versões digitais nos links abaixo:

HQ “Trabalho por Aplicativos”

Cartilha “O trabalho por plataformas digitais”

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

Artigos relacionados