
Beto Soares | Estúdio Boom
Há quem sustente que as pessoas decidem aceitar um determinado nível de risco para manter certo nível de conforto e que o risco zero não existe, pois risco zero significa ganho zero. Arriscar-se faz parte da natureza humana e tem a ver com a vontade de ganhar algo. O desejo de possuir uma cultura de segurança robusta, muitas vezes, vira sonho quando se esbarra em um cotidiano no qual normalmente aceitam-se riscos elevados.
Cultura de segurança, em uma definição simples, significa “a forma como as coisas ligadas à segurança são feitas no local”. Compreende os valores e crenças e a maneira como elas interagem com a estrutura organizacional, seja formal ou não.
Tem a ver também com o modo como as pessoas lidam com os riscos, como os percebem e os aceitam. A percepção dos riscos aparece como fator humano recorrente em muitas investigações de acidentes e desafia os gestores em atividades perigosas a reduzir os acidentes de forma geral, incluindo os de trabalho e os de trânsito.
É possível modificar o comportamento das pessoas para que posicionem adequadamente o seu nível de aceitação para os riscos que correm no cotidiano? Sabe-se que cada um dá o seu significado para um determinado risco, independentemente do que os outros definam, mesmo sendo especialistas no assunto.
O significado do risco está intimamente ligado a duas variáveis importantes: a gravidade do incidente e a sua probabilidade de ocorrência. Mas o cérebro se preocupa muito pouco com a probabilidade, como explica Amanda Ripley no seu brilhante livro The unthinkable – Who survives when disaster strikes – and why (em tradução livre, “O impensável – Quem sobrevive quando ocorre um desastre – e por quê”).
Amanda Ripley magistralmente traz à luz uma verdade incontestável: “flertamos desavergonhadamente com o risco”. As pessoas usam atalhos emocionais, de acordo com a pesquisa comentada por ela. Não levam em conta a chance de um evento dramático ocorrer. Quanto maior a incerteza, maiores os atalhos, que são gatilhos para os erros.
Não saem por aí como avaliadores de riscos, calculando probabilidades para os desastres que podem sofrer. Esta é a visão calibrada de Paul Slovic, um dos mais reconhecidos especialistas quando se fala em risco percebido.
Amanda Ripley conta como Rick Rescorla, herói do Vietnã em 1965, tornou-se também herói em 2001. Ele previu o primeiro atentado à bomba no World Trade Center, em Nova Iorque, Estados Unidos, e também possíveis ataques com aviões. Por isso, ensinou aos empregados da Morgan Stanley a se salvarem na tragédia de 11 de Setembro.
Quando uma torre desabou, apenas 13 colegas da Morgan Stanley, incluindo Rescorla e quatro de seus funcionários da segurança, estavam lá dentro. Antes Rescorla havia retirado, de 20 andares, 2.687 pessoas que sobreviveram.
O livro de Amanda Ripley é obrigatório para quem lida com planos de emergências e aconselhável para quem anda de avião ou se aventura em cruzeiros e transatlânticos, como o Costa Concordia que adernou em 13 de janeiro de 2012 na costa da Itália.
Despreparo
Você, que mora ou trabalha em um edifício, já tentou procurar de olhos fechados a porta no seu andar que dá acesso à escada de emergência? Tem praticado, algumas vezes por ano, descer a escada de emergência? Ao embarcar em um avião, você conta as fileiras à frente ou atrás da sua até a saída de emergência? Você acha que vai enxergar algo dentro de um avião superlotado de fumaça?
Artigo de José Luiz Lopes Alves, Engenheiro Químico (UFRGS), mestre em Qualidade (Unicamp) e doutor em Engenharia (USP)
Confira o artigo completo na edição de janeiro da Revista Proteção.
É sempre bom saber mais sobre segurança, e praticar tbm é muito importante, vc estão de parabéns.
Gostei da linha de pensamento esse gestor quando diz sobre a relação da extensão da gravidade da
lesão e a extensão da probabilidade do risco vim a se transformar em danos.