
Doutora em Psicologia Social, Margarida perdeu sua única filha há cerca de 30 anos e foi então que a dor desta perda a fez rever suas escolhas de vida. Especialista em ginecologia e cirurgia, decidiu voltar-se para a Homeopatia, depois especializou-se em Higiene Industrial e em seguida em Medicina do Trabalho onde atua até hoje. No atendimento a trabalhadores do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo, ela se deparou com o sofrimento ligado ao trabalho. “Eram histórias inacreditáveis que iam desde cobranças excessivas, autoritarismo, rebaixamentos, constrangimentos, discriminações e humilhações. Já cursando mestrado em Psicologia Social, ela tentava encontrar respostas para suas angústias, até que um dia ouviu de um trabalhador em lágrimas: “doutora, eu vivo uma jornada de humilhações”. Ela relembra que esse trabalhador a convenceu, sem que ele soubesse, sobre o que ela deveria pesquisar: sobre essa `jornada de humilhações’ que eles sofriam”. Nesta entrevista, Margarida explica que, muitas vezes, o assédio moral no trabalho pode ter estreita ligação com o vertiginoso crescimento das doenças mentais que atingem todas as categorias de trabalhadores no Brasil.
Os casos de assédio estão aumentando ou hoje há maior visibilidade sobre o assunto?
Te diria que hoje, as humilhações repetitivas enquanto violência psicológica, são mais visibilizadas e compreendidas pelos trabalhadores. Em especial, quando você tem os enxugamentos, os programas de demissão voluntária, as inovações tecnológicas e reestruturações e as demissões por adoecimentos ou morte por suicídio após demissões. Apesar de todo o trabalhador conhecer, discutir e saber que ao vender sua força de trabalho não está comercializando sua dignidade, sua honra, sua ética, sua moral e sequer dando direito aos seus patrões e chefes de lhe humilharem e rebaixarem, na prática, os trabalhadores se sujeitam por necessidade. Se sujeitam ao ritmo intenso, às jornadas prolongadas, às imposições de horários e múltiplas tarefas, por medo de perder o emprego. Mesmo quando controlados em seus comportamentos e necessidades fisiológicas, suportam. Há um controle dos corpos, que são administrados, disciplinados e confrontados como se fossem todos, potencialmente, insubordinados. Essa dimensão é bastante sofrida, pois quando adoecem ou são demitidos, ainda se sentem culpados.
FOTO: Gustavo Morita
Entrevista à jornalista Daniela Bossle
Confira a entrevista completa na edição de agosto da Revista Proteção.