O investimento nestes EPIs requer atenção em relação às tecnologias de fabricação
A vestimenta de proteção ainda é considerada, muitas vezes, como um uniforme. Mas sua finalidade está longe de ser apenas uma roupa padronizada. Com a presença de riscos mecânicos, térmicos, químicos, elétricos, radioativos ou umidade nos locais de trabalho, a proteção do corpo do trabalhador, ou parte dele, passa pela correta aquisição e utilização das vestimentas.
A NR 6 (Norma Regulamentadora de Equipamento de Proteção Individual) determina o macacão de segurança, conjunto de segurança, vestimenta de corpo inteiro, colete à prova de balas, perneiras, capuz e meias como os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) adequados para estes riscos. Mas não basta só comprá-los. Na hora da escolha dos EPIs, deve-se levar em conta a seleção e a especificação em relação à qualidade de seus componentes e da confecção envolvida.
Para a escolha adequada de tecidos e tecnologias das vestimentas, por exemplo, é necessário que os riscos e as atividades desempenhadas também sejam sempre avaliados, aliando proteção ao conforto. É preciso, também, relacionar os perigos à matéria-prima utilizada na vestimenta, à forma como o material é confeccionado, bem como ao controle de seu processo de fabricação. Parte importante para o estabelecimento de um programa bem estruturado de Segurança do Trabalho, estes EPIs são considerados a última linha de defesa para quem os utiliza. Por isso, a importância de serem eficazes.
Além dos cuidados observados na compra destes equipamentos, os trabalhadores também precisam ser instruídos sobre a sua utilização correta para que possam se proteger adequadamente no local de trabalho. Entender como utilizar a vestimenta de proteção corretamente e como cuidar dela é essencial para a segurança.
Outro desafio passa por orientar e educar o mercado na interpretação dos resultados dos ‘ensaios de tipo’ desses equipamentos e solicitar a rastreabilidade reversa no processo produtivo para a qualificação e acompanhamento da confecção escolhida. Com este processo, que deve ser evidenciado pelo Sistema de Gestão da Qualidade das empresas, é possível, através do número do lote da fabricação da vestimenta, ter evidência em relação a quais lotes de tecidos foram utilizados, uma vez que as vestimentas são confeccionadas com vários componentes chamados de críticos.
MOTIVOS
Com o tempo, a quantidade de matérias-primas voltadas à proteção do corpo do trabalhador aumentou, assim como melhorou a qualidade do que é oferecido no mercado. As vestimentas de proteção passaram por muitas inovações e hoje sua utilização vai muito além do cumprimento da NR 6, resguardando os trabalhadores dos riscos inerentes às funções. Dentre as principais razões para manter a utilização das vestimentas em dia na empresa estão:
1 – Priorizar a segurança
Treinar os trabalhadores sobre a correta utilização e manutenção de suas vestimentas de proteção é uma forma de garantir a sua segurança. A capacitação bem-feita auxilia na compreensão dos benefícios obtidos com a utilização adequada e a distinção clara do tipo de proteção que cada vestimenta oferece.
2 – Garantir o cumprimento das normas
A NR 6 (Equipamento de Proteção Individual) exige que todos os trabalhadores utilizem vestimentas de proteção para ajudar a mitigar ferimentos causados por perigos identificados na avaliação de riscos. Se os trabalhadores não estiverem cientes das regras do local de trabalho em relação às vestimentas, eles devem ser proibidos de realizar as suas tarefas. É dever do empregador informar e treinar os trabalhadores sobre a importância do uso correto das vestimentas, cumprindo os requisitos da NR 6 e das portarias vigentes.
3 – Estabelecer boas práticas
Para garantir a melhor proteção possível é necessário utilizar corretamente a vestimenta de proteção. Regras básicas como manter as mangas sempre cobrindo toda a extensão do braço e fechadas no punho; utilizar a camisa dentro da calça; manter os botões fechados até o colarinho, são exemplos de boas práticas e essenciais para a devida proteção dos usuários. Se a vestimenta não for utilizada corretamente, os usuários podem correr risco elevado de ferimentos em áreas do corpo que estejam descobertas na ocorrência de um acidente. Vestimentas muito folgadas, muito curtas ou muito apertadas podem representar riscos adicionais à segurança. Além de utilizar corretamente as vestimentas, os trabalhadores precisam saber qual a roupa adequada para cada tarefa. Quando um trabalhador entende como e quando usar adequadamente a sua vestimenta para a realização da tarefa envolvida, é menos provável que fique desprotegido ou parcialmente protegido no caso de alguma ocorrência.
4 – Conscientizar sobre a exposição aos riscos
Conhecer o desempenho das vestimentas frente aos riscos ajudará os usuários e também quem as especifica, a entender melhor como este EPI protege nas diversas situações laborais. É importante observar que depois que todas as outras medidas de proteção falharem, a vestimenta de proteção será a última barreira, portanto sua utilização correta é primordial.
5 – Reforçar sobre cuidados e manutenção
As vestimentas de proteção devem ser cuidadas e lavadas de acordo com as instruções da etiqueta do fabricante para garantir a durabilidade de suas propriedades de proteção. Quando elas são conservadas adequadamente, as suas propriedades se mantêm, protegendo o usuário dos riscos ao qual foram destinadas. Também devem ser armazenadas em um ambiente limpo e livre de poeira. Quando existe um programa de vestimentas de proteção estruturado, os trabalhadores ficam mais protegidos contra os perigos expostos no local de trabalho. O treinamento sobre suas vestimentas fornecerá as ferramentas necessárias para se apropriarem de sua própria segurança.
Requisitos para seleção
Conhecer os tipos de roupas disponíveis para cada risco é essencial para fazer a escolha correta
Uma vez consciente sobre a importância das vestimentas de proteção é preciso atentar para que a seleção das roupas seja a mais adequada possível à realidade laboral, antes de efetuar a sua compra. Com uma variedade de tecidos de proteção disponíveis de inúmeros fabricantes, é importante aprofundar-se nas informações técnicas sobre o desempenho de cada um deles, uma vez que cada fabricante adota um processo diferente para integrar as propriedades protetoras necessárias em cada tecido. Além disso, a análise do histórico dos fabricantes e a reputação da marca são componentes importantes dentro de toda esta avaliação.
Quem especifica a vestimenta de proteção deve estar comprometido com a avaliação do produto que especifica. Portanto, para uma melhor análise da qualidade da proteção, é imperativo conhecer as normas de ensaios a que a vestimenta deve atender e não somente o número do CA. Durante a escolha também devem ser considerados aspectos ambientais, como o fator climático da região onde a empresa está situada, criando-se um programa de vestimentas de proteção. Os componentes adicionados a esta vestimenta como: tipos de aviamentos e modelagem adequada para conforto e mobilidade também devem ser levados em conta.
APLICAÇÃO
Para cada risco há uma vestimenta recomendada. Por isso, é essencial antes de efetuar a compra, conhecer os produtos adequados para a realidade de cada atividade. Os tipos de vestimentas bem como suas respectivas aplicações são:

Vestimentas condutivas para trabalhos ao potencial são utilizadas nas instalações e serviços em eletricidade que devem cumprir com requisito da NR 10. O item 10.2.9.1 determina que as vestimentas para tais serviços contemplem: condutibilidade, inflamabilidade e influência eletromagnética. Para a realização de trabalhos com linhas energizadas ao potencial são utilizadas vestimentas especiais (condutivas), que devem ser acompanhadas de outros equipamentos, tais como: luvas condutivas, botas com solado condutivo, ligas, bastões, etc.

Vestimentas de proteção térmica a riscos de calor e chama protegem contra agentes provenientes de exposição ao fogo repentino, arco elétrico ou respingos de metal fundido. Estas vestimentas evitam queimaduras graves ou fatais para quem trabalha em manutenção elétrica ou atividades que envolvam riscos de explosão como setores químicos e petroquímicos. A tecnologia empregada nos tecidos oferece resistência, conforto e transpirabilidade. O tecido é o mais importante aspecto de uma vestimenta quando se trata de proteção antichama. Há uma variedade de materiais disponíveis, entretanto, cada uma com um desempenho diferente. É importante ter um profundo conhecimento sobre o fabricante do tecido antichama – sua reputação, história e tecnologia – bem como da engenharia específica usada para dar à sua vestimenta propriedades de proteção.

Vestimentas que protegem contra agentes biológicos oferecem resistência à penetração de um ou diversos tipos de agentes infecciosos, e, opcionalmente, através de inativação de agentes infecciosos específicos. Os agentes infecciosos são: vírus, bactérias e esporos de fungos. Existem diversas combinações para proteção contra a contaminação por esses micro-organismos, como polietilenos, polivinílicos, mistos com acabamento antimicrobial, Tyvek®, poliéster e algodão com acabamento antimicrobial. Existem vestimentas adequadas para procedimentos cirúrgicos, não cirúrgicos, ou ainda para diferentes tamanhos de micro-organismos e formas de contaminação.

Vestimentas que protegem contra riscos mecânicos são desenvolvidas com materiais que proporcionam alta resistência à ruptura ou corte. Também é preciso manter o conforto e permitir a movimentação. Para-aramida é indicada para corte, abrasão, escoriação, enquanto o couro em raspa ou vaqueta resiste contra abrasão e escoriação.

Vestimentas de resistência ao calor irradiado devem ser confeccionadas em materiais como para-aramida, meta-aramida e couro tratado para que ofereçam proteção contra este risco presente nas siderúrgicas, metalúrgicas, mineradoras entre outras indústrias. Sistema de dupla aluminização por filmes termostáticos, combinados com tecidos de carbono pré-oxidado, fibra de vidro e para-aramida ou tecido base em 100% Rayon PRF, camada dupla com tecidos de aramida são algumas opções.

Vestimentas de resistência a produtos químicos protegem contra agentes químicos em estado gasoso, líquido ou sólido, com opções variadas, desde um avental à roupa encapsulada. Também há variedade de materiais tratados com hidrorrepelentes e aramidas. Deve-se observar o produto químico utilizado na atividade e sua concentração. A ISO 16602 prevê seis níveis de proteção contra produtos químicos sólidos em suspensão no ar.
Certificação e ensaios sofrem alterações
As vestimentas de proteção devem atender à normativa em vigor para cada tipo de risco. Necessitam, igualmente, serem submetidas a ensaios técnicos para obterem o CA (Certificado de Aprovação) do MTE, sem o qual, não poderão ser usadas pelos trabalhadores, de acordo com a NR 6.
Por conta da significativa evolução nos equipamentos de proteção, os trabalhadores brasileiros hoje podem ter acesso a equipamentos similares aos utilizados em outras partes do mundo. No entanto, isto está relacionado ao processo de certificação e ensaios de EPIs, que merece atenção por parte das empresas que forem selecionar e comprar seus equipamentos.
No caso das vestimentas, o artigo 6º da Portaria nº 672, informava que passariam a ser aceitos Laudos de Ensaio e Certificações do exterior para estes equipamentos. Ocorre que a Portaria nº 549 alterou esse artigo que prevê, a partir de agora, não mais aceitar ensaios e certificações do exterior, com algumas exceções, a saber:
- Vestimentas de proteção contra risco químico tipos 1, 2 e 5 (já constantes desde a Portaria nº 11.437);
- Vestimenta condutiva de segurança para proteção de todo o corpo para o trabalho ao potencial acima de 800 KV CA e 600 KV CC e até 1000 KV CA e 800 KV CC (incluída pela Portaria nº 549).
Ainda, o parágrafo 4º do artigo 6º da Portaria nº 549 informa que quando os EPIs forem categorizados em função do risco, a possibilidade de aceitação de ensaios e certificações realizados no exterior serão reavaliadas.
No Quadro 1 desta mesma portaria, foi alterada a certificação para Vestimentas de Combate a Incêndio Florestal, da EN 15614 para ISO 15384.
O Ministério do Trabalho e Previdência também está estudando o Regulamento de Avaliação de Conformidade para as Vestimentas de Arco e Fogo.

Baixe em PDF o Manual para seleção de EPIs – Vestimenta de Proteção
Colaboração técnica: Maria do Carmo Chies – Gerente de Mercado América Latina – Westex a Milliken Brand
Esta é a nona de uma série de reportagens sobre a forma de selecionar os EPIs adequados.