Em evidência devido à pandemia, os transtornos mentais no trabalho têm uma história antiga
Nestes tempos de pandemia, quando o isolamento social é considerado como o único remédio para se evitar a contaminação pelo coronavírus, tem se recomendado a prática do trabalho remoto, ou home office. Todavia, estudos mostram que esse sistema, embora necessário no momento, tem trazido como consequências distúrbios de ordem mental, tendo em vista que não são todas as pessoas que conseguem ter o mesmo desempenho laboral atuando fora do ambiente que um escritório convencional proporciona.
É grande o número de psicólogos e psiquiatras que relatam terem sido procurados por quem não se adapta à nova rotina. Falta de apetite, depressão, irritação, perda de libido e síndrome do pânico são os sintomas mais comuns. Em alguns países da Europa já houve relatos até de suicídios motivados pelo total descontrole emocional que essa forma de trabalho proporciona para determinados indivíduos.
Os estudos iniciais relacionados aos transtornos mentais e de comportamento apresentados pelos trabalhadores ligados à atividade laboral são bem antigos, remontando ao ano de 1913. A pesquisa que foi publicada na Inglaterra sob o título Psychology and industrial efficiency de Munsterberg (1913) é identificada como a primeira referente à temática e foi realizada como forma de fazer com que o trabalhador produzisse cada vez mais e melhor. A partir daí vários estudos foram publicados enfocando diversos aspectos sobre as variações fisiológicas e psicológicas que acometem as mais variadas categorias de profissionais.
CONSEQUÊNCIAS
Ao longo dos anos, têm crescido e ganhado visibilidade as investigações sobre transtornos mentais relacionados às transformações no mundo do trabalho, pois a adoção de novas tecnologias, métodos de gerenciamento das equipes de produção, pressão por resultados, bem como a precarização nas relações de trabalho, presentes na atualidade, têm alterado amplamente a organização e as condições das atividades laborais. Assim sendo, os estudos atuais visam proporcionar uma compreensão mais ampla dessa relação trabalho/saúde mental, visto que “segundo estimativa da OMS, os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%.”
Uma reportagem da CBN Saúde informa que no Brasil apenas 18% das empresas mantêm um programa para cuidar de saúde mental dos seus empregados. É destacado que nove em cada 10 brasileiros no mercado de trabalho apresentam sintomas de ansiedade, do grau mais leve ao incapacitante. Quase a metade (47%) sofre de algum nível de depressão, recorrente em 14% dos casos. Entre 2012 e 2018 foram concedidos cerca de 780 mil benefícios previdenciários por conta do afastamento de trabalhadores, tendo como causa as doenças mentais. Os dados são da última pesquisa da ISMA-BR, representante local da International Stress Management Association, organização sem fins lucrativos dedicada ao tema.
Seja como for, a pandemia trará diversas consequências ao mundo do trabalho. Quando pudermos retornar à normalidade, e isso um dia vai acontecer, caberá à equipe do SESMT, através dos profissionais capacitados para isso, aprofundar-se no tema, para que não venhamos a ter uma “epidemia” de doentes mentais em nossas empresas.
Luis Augusto de Bruin – Especialista em Direito Trabalhista e Previdenciário, professor em cursos de formação de Técnico de Segurança do Trabalho e consultor de empresas
luisbruin@terra.com.br