Edição 403 – Julho/2025
Contrariando a tragédia grega os profissionais podem mudar o futuro das organizações
E se eu falar que há 2800 anos alguns gregos visionários criaram um Mito que descreve bem nossa condição de profissionais da área de saúde e segurança? Imaginem uma mulher capaz de prever o futuro, mas que ninguém leva a sério suas previsões! Ela sabe que um desastre está prestes a acontecer, mas ninguém a escuta. Esta história é mais do que uma simples tragédia grega. Ela possui uma analogia poderosa com os dias de hoje, especialmente quando observamos a realidade de muitos profissionais de nossa área. Eles estão sempre alertando sobre os riscos no ambiente de trabalho, mas, muitas vezes, não são ouvidos — até que a tragédia acontece. E aí, claro, é tarde demais.
Mas vamos por partes para entender melhor como essa comparação faz sentido.
A maldição de Cassandra é um dos exemplos mais dolorosos da mitologia grega. Apolo, o deus do sol e da profecia, se apaixonou pela jovem princesa troiana e para conquistar seu coração, deu à Cassandra o dom da profecia. Ela, porém, não correspondeu ao seu afeto e em um ato de vingança, ele lançou uma maldição: mesmo sabendo o que iria acontecer, ninguém acreditaria nas suas previsões. Cassandra então se tornou uma profetisa impotente, sempre advertindo sobre desastres iminentes, como a queda de Troia, mas sem nunca ser ouvida.
Essa analogia pode ser facilmente estendida para os profissionais da área de Saúde e Segurança do Trabalho, que, muitas vezes, se veem em uma posição semelhante a de Cassandra. Eles têm o conhecimento técnico necessário para identificar os riscos no ambiente de trabalho, desde doenças ocupacionais até acidentes graves, mas frequentemente suas advertências e sugestões não recebem a devida atenção. E, assim como a profecia de Cassandra, as consequências dessas negligências se manifestam em forma de acidentes de trabalho, adoecimentos e até mortes.
ORÁCULO DA SEGURANÇA
Os profissionais da área de Saúde e Segurança do Trabalho são como aqueles “videntes” que sabem onde os problemas podem surgir. Eles conseguem identificar os riscos — sejam eles físicos (como máquinas sem proteção ou quedas de altura), químicos, biológicos ou até psicossociais (como o estresse ou a sobrecarga mental) — e estão sempre alertando para que as empresas ajam antes que o pior aconteça.
Mas, assim como Cassandra, muitos desses profissionais ficam frustrados porque as pessoas não lhes dão a devida atenção. A indiferença à sua expertise pode ser observada em diversos níveis, desde a falta de investimento nas condições adequadas de trabalho até a resistência a implementar mudanças necessárias, mesmo quando as evidências de risco são claras. Essa negligência tem consequências reais, e, assim como na tragédia de Troia, as advertências ignoradas podem resultar em desastres inevitáveis.
Imagine, por exemplo, um técnico de Segurança do Trabalho que constantemente alerta para a necessidade de instalação de uma linha de vida adequada em determinado setor. Um projeto relativamente oneroso e que no final das contas, muita gente acha que é “coisa de exagerado” e só dá importância quando alguém se machuca. E aí, o alerta foi ignorado. Uma história que poderia ter sido diferente, se tivessem ouvido o “oráculo” da segurança a tempo.
Dados do autor:
Claudio Cesar Pontes – Consultor, Docente e Conferencista Internacional na área de SST. Sócio diretor da empresa Vizimed Segurança e Medicina do Trabalho
claudioc.pontes@hotmail.com
Confira o artigo completo na edição de julho da Revista Proteção.