Por Martina Wartchow/Jornalista da Revista Proteção
Embora as causas oficiais da tragédia na região portuária de Beirute em 4 de agosto não tinham sido divulgadas até o fechamento desta edição, ela já é caracterizada como um acidente químico ampliado envolvendo 2.750 toneladas de nitrato de amônio estocadas há seis anos em um armazém. Houve uma primeira explosão forte, seguida por um incêndio e algumas detonações, e, então, uma segunda explosão, que gerou uma grande nuvem de fumaça e arrasou o porto e os edifícios vizinhos, resultando na morte de 177 pessoas e 6.500 feridos.

Conforme o engenheiro químico Fernando Vieira Sobrinho, tecnologista da Fundacentro, se trata de um acidente ampliado de acordo com a Convenção nº 174 da OIT, que versa sobre a prevenção de acidentes industriais maiores que envolvam substâncias perigosas. A expressão acidente maior designa todo evento súbito, como emissão incêndio ou explosão de grande magnitude, no curso de uma atividade em instalação sujeita a riscos de acidentes maiores, envolvendo uma ou mais substâncias perigosas e que implica grave perigo, imediato ou ao longo do tempo, para os trabalhadores, a população ou o meio ambiente;
PREVENÇÃO
“Não temos como determinar as possíveis causas, mas, para a explosão do nitrato de amônio, é necessária, além do confinamento, pelo menos mais uma das duas seguintes condições simultaneamente: aquecimento por incêndio acima de 300⁰C e contaminação”, explica. Para que a tragédia fosse evitada, cita as recomendações básicas de segurança para o produto: rígido controle para evitar contaminação por substâncias incompatíveis, com a disponibilização e observância de fichas de informações sobre segurança; condições de armazenagem e acondicionamento em situação de confinamento/empacotamento norteadas por regulamentação e análise de riscos das condições do local e a eventual vulnerabilidade do entorno; e capacitação e informação de todos os envolvidos no ciclo de produção, transporte, utilização e descarte de embalagens da substância. “Conhecimentos adequados sobre a química do produto e seu potencial de danos fazem parte dessas recomendações”, ressalta.
Fernando ainda destaca que, no Brasil, a elaboração e a observância das FISPQs (Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos), feitas com base no GHS (Sistema Globalmente Harmonizado para Rotulagem de Substâncias Químicas) e na NBR ABNT 14725, são medidas para promover a SST. Observa, também, que normas do Exército Brasileiro determinam o controle do produto e a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) regula a questão da segurança no transporte terrestre do nitrato de amônio.
REGISTROS ANTERIORES
Ano | Local | Acidente |
1921 | Alemanha | Explosões na fábrica da Basf em Oppau envolvendo 4,5 mil toneladas de sulfato de amônio e nitrato de amônio deixaram 561 mortos e 2 mil feridos. |
1947 | Estados Unidos | Explosão de 2,3 mil toneladas de nitrato de amônio a bordo de um navio francês no porto no Texas deixou 581 mortos e mais de 5 mil feridos. |
1947 | França | Explosão do cargueiro norueguês Ocean Liberdade com 3 mil toneladas de nitrato de amônio no porto de Brest matou 30 pessoas e feriu milhares. |
1997 | Brasil | Explosão em caminhão com nitrato de amônio matou 11 pessoas em Sapucaia/PA. |
1998 | China | Na província de Shaanxi, 24 trabalhadores morreram e 60 ficaram feridos na explosão em uma fábrica de fertilizantes. |
2001 | França | Explosão do estoque de nitrato de amônio da fábrica AZF, em Tolouse, provocou a morte de 31 pessoas e deixou 2,5 mil feridos. |
2004 | Coreia do Norte | Colisão entre um trem que transportava petróleo e vagões carregados de nitrato de amônio causou uma série de explosões e deixou 161 mortos e 1,3 mil feridos. |
2013 | Estados Unidos | Explosão de nitrato de amônio na West Fertilizer Company, no Texas, matou 15 pessoas e feriu 160. |
2013 | Brasil | Explosão em um galpão de fertilizantes da empresa Global Logística em São Francisco do Sul/SC causou a remoção de pessoas em quatro bairros por causa da fumaça tóxica. |
2015 | China | Explosões envolvendo 800 toneladas de nitrato de amônio em um armazém de uma empresa de logística de produtos químicos no porto de Tiajin deixaram 173 mortos e centenas de feridos. |
2017 | Brasil | Incêndio começou após explosão em uma correia transportadora que alimentava o armazém da unidade de nitrato de amônio da Vale Fertilizantes em Cubatão/SP. A estrutura foi evacuada e nenhum funcionário ficou ferido. |