– Professor, tem dia que acho que o melhor é largar toda essa história de Segurança do Trabalho e mudar de ramo.
– Calma, meu filho. O que aconteceu?
– Aconteceu que lá na empresa quando eu achava que já estava com uma moralzinha, acabo levando um balde de água fria.
– Não estou entendendo nada!
– Foi o seguinte, lá na empresa foi estabelecido o uso de bota para todos da produção e também para os trabalhadores do administrativo que circulam pela produção. Já tive que flexibilizar um pouco, pois na minha opinião o ideal era ser um procedimento para todos.
– Entendi, mas qual foi o problema?
– A empresa acabou de contratar um novo Gerente de Produção e princípio pareceu ser um cara bacana e aproveitei para ir conversar com ele sobre os procedimentos de SST e percebi que ele estava de sapato social. Comentei com toda a educação possível que apesar de não realizar um serviço de maior esforço e não circular de forma contínua, tínhamos um procedimento de uso de bota.
– Qual foi a reação dele?
– Olhou com uma cara de ironia e disse que não seria possível e qualquer coisa podia falar para o meu superior ir falar com ele que ele explicaria os motivos. Na sequência se virou e foi embora.
– Você falou com o seu gestor?
– Falei e ele disse que poderia conversar, mas atualmente ele estava com muita força política, pois tinha acabado de ser contratado e não achava que o diretor iria incomodar o cara com um problema tão pequeno. Quando ele acabou de falar eu só faltei chorar. Estava achando que já tínhamos uma cultura de Segurança consolidada, que pelo menos meu gestor já havia entendido e quando menos espero tenho esse tipo de diálogo.
– Meu filho, sei como deve ter sido frustrante, mas pense nos pequenos avanços. Na verdade, essa nossa conversa me fez lembrar de um trecho do Clássico “As Vinhas da Ira” do autor John Steinbeck. No livro há um diálogo entre os personagens Casy e Tom que pode lhe dar algum consolo: “De qualquer jeito, a gente faz o que pode. E a única coisa de que a gente deve cuidar é dar sempre um passo pra frente, um passo, por menor que seja. Se depois a coisa andar em marcha à ré, nunca vai andar tanto pra trás como andou pra frente. Pode-se provar isto e é por isso que vale a pena. Fica provado que nada é inútil, mesmo que assim pareça.”
– Valeu, professor. Ainda estou triste, mas gostei do texto. Vou continuar tentando, mesmo que seja com passos curtos.

O blog Segurito na Proteção trata de questões relacionadas à SST. É editado pelo professor Mário Sobral Jr, que é Mestre, engenheiro de Segurança do Trabalho, especialização em Higiene Ocupacional e Ergonomia e Editor do Jornal Segurito.
mariosobral@jornalsegurito.com