– Professor, lá na empresa “inventaram” que a produção aumenta se o trabalhador ficar em pé devido à facilidade de movimentação quando comparado ao trabalho sentado, mas tenho recebido muita reclamação de parte dos trabalhadores. O senhor pode ajudar com alguma informação para eu ter argumentos para conversar com o patrão?
– Com certeza, meu filho! Por coincidência estudei sobre esse tema faz algumas semanas. Um detalhe que é importante considerar é que além de trabalhar em pé de forma estática o trabalho restrito também tem consequências similares.
– O que o senhor chama de trabalho restrito?
– Seria estar perto de um ponto específico, sem possibilidade de deslocamento, dentro de 1 m2 sem sair da área.
– Entendi, mas a partir de quanto tempo pode ser considerado trabalhar em pé?
– Nos materiais que pesquisei havia a indicação de ficar em pé continuamente por mais de 1 hora ou ficar em pé por mais de 4 horas por dia.
– Se eu seguir esse critério a maior parte dos trabalhadores da minha empresa vão estar enquadrados. Mas quais podem ser as consequências de ficar em pé por um período prolongado?
– Pode ocorrer o desenvolvimento de distúrbios venosos dos membros inferiores e desconforto no tornozelo/pé e, eventualmente, o desconforto pode levar a queixas no tornozelo/pé. Mas além dos problemas osteomusculares ainda outras consequências para a saúde.
– Quais, professor?
– Para facilitar vou listar algumas referências que li sobre o tema:
- A permanência prolongada em pé está associada a distúrbios venosos crônicos, problemas circulatórios e aumento do risco de acidente vascular cerebral (McCulloch, 2002);
- Trabalhadores de diferentes profissões que desempenham predominantemente o trabalho em pé (50% da jornada ou mais) têm um risco aumentado superior a 25% de desenvolver varizes nos membros inferiores (Sisto et al.., 1995; Tüchsen et al., 2000);
- Ocupações predominantemente em pé estão associadas a um risco maior de doenças cardíacas do que ocupações envolvendo predominantemente sentar (Smith et al., 2018);
- Ficar em pé por tempo prolongado sem movimento dinâmico, mesmo por períodos tão curtos quanto 30 minutos, leva à fadiga física, desconforto e dor em várias regiões do corpo. (Waters e Dick, 2015);
- Evidências sugerem pequenos aumentos nos riscos de nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e tamanho pequeno ao nascer para a idade gestacional estão associados à permanência em pé prolongada durante a gravidez (Palmer et al., 2013; Waters e Dick, 2015);
- Ficar em pé por longos períodos durante a gravidez aumenta o risco de inchaço, veias varicosas e trombose nas pernas (Gerhardsson e Lillienberg, 2020);
- Outra revisão concluiu que há evidências de aumento da incidência de natimortos, abortos espontâneos e partos prematuros associados à permanência prolongada por 3 ou mais horas (Waters e Dick, 2015);
- Os trabalhadores que passam mais de 6 horas por dia em pé ou andando no trabalho têm um risco 45% maior de necessitar de cirurgia de hérnia inguinal lateral do que aqueles que caminham ou ficam em pé por menos de 4 horas por dia (Vad et al., 2017);
- A exposição à vibração de corpo inteiro ao ficar em pé por períodos prolongados aumenta os riscos de problemas lombares e outros DORTs, especialmente se as posturas forem inadequadas.
– Poxa, professor é muito problema, mas nesses materiais que o senhor leu falava sobre o que fazer?
– A principal orientação é dar pausas para esses trabalhadores, podem fazer a diferença pequenas pausas a cada 30 minutos. Outra orientação esperada é a rotação de tarefas. Além das pausas e revezamento uma ação possível é a aquisição de tapetes anti-fadiga e palmilhas almofadadas, porém em relação a essas medidas deve-se ter muito cuidado com a especificação, há muito materiais que ao invés de ajudar irão prejudicar a saúde do trabalhador.
– Tem mais alguma coisa que o senhor ache importante?
– Como dificilmente você vai conseguir mudar tudo na sua empresa, tente priorizar os postos que além de ficar em pé o trabalhador esteja carregando peso, pois terá um aumento da carga mecânica nas pernas, além é claro fatores como área de alcance, carga mental, atividade repetitiva, ou seja, todos os fatores que irão se acumular e potencializar o problema.
– Tem algum material para aprofundar as informações?
– Recomendo o material: Prolonged constrained standing at work – European Agency for Safety and Health at Work (EU-OSHA).

O blog Segurito na Proteção trata de questões relacionadas à SST. É editado pelo professor Mário Sobral Jr, que é Mestre, engenheiro de Segurança do Trabalho, especialização em Higiene Ocupacional e Ergonomia e Editor do Jornal Segurito.
mariosobral@jornalsegurito.com