sábado, 28 de junho de 2025

Reflexões de uma noite qualquer

Por Ivan Rigoletto

Oi gente. Escrevi este texto de uma só vez, numa noite dessas, antes de participar de uma live com um cara bem interessante de Santa Catarina, o Rogério. Arranjei um pouco meus argumentos, e este mês trago para o blog.

Nessa live, entre outras coisas, eu falei sobre como a evolução das revoluções industriais recentes chegou na Segurança, considerando o meu ponto de vista. Na minha opinião, a evolução não foi na regulamentação, nas novas visões, e em nenhum conceito que tenha surgido na academia, muito embora estes processos e conceitos tenham evoluído bastante, e sem dúvida são ultra representativos no momento atual. Para mim, a Tecnologia da Informação foi o principal vetor de evolução nestes últimos 30 anos. Favoreceu a disseminação do conhecimento. Antes, a pessoa ia para a segurança quando não se adaptava em lugar nenhum. Hoje é uma área do conhecimento muito rica e prestigiada ao menos nas grandes empresas, nacionais e globais. Outro dia, eu estava conversando com uma boa engenheira, que queria orientação para fazer um mestrado na área, no Nordeste. Conversamos bastante. A grande mudança é que hoje os messis, maradonas, pelés, garrinchas, enfim talentos jovens e maduros consideram a Segurança como uma área interessante para trabalhar e se desenvolver.

As Novas Visões, e muitos de seus conceitos, já estão por aí há um bom tempo. Para quem é cristão e conhece a Bíblia, procure as passagens de Jesus ensinando o pai nosso e a parábola do filho prodigo. Vai encontrar todos os princípios do HOP por lá. Outra coisa, a reunião de Bellagio organizada pela OTAN, que para mim marca o início dos atuais estudos sobre fatores humanos e erro humano, que juntou todos os caras que estudamos hoje, foi lá em 83… tava o Reason, o Rasmussen, o Hollnagel e mais um montão de gente. Times de aprendizagem também é um conceito dos círculos de qualidade dos anos 80. Eu vi isso na IBM em 1986, até participei de um destes círculos (um dos primeiros reconhecimentos que tive em minha carreirafoi pela participação em um deles).  O novo nessa história, e o charme está aí, é que agora começam a ser internalizados na Segurança. Claro o Safety II, a Engenharia de Resiliência como está sendo estudada agora, a Segurança Psicológica, hoje em dia mais divulgada e aparentemente mais fácil de ser aprendida e ensinada depois da Amy Edmondson. Isso tudo é novo.

Ainda, conceitos de dirigir olhando pelo retrovisor precisam ser revistos, assim como o papel do engenheiro de segurança numa organização. As técnicas, devemos nos ater cada um na sua área. Tem muito engenheiro curioso, sem musculatura de conhecimento, discutindo psicologia, por exemplo. Socorro. Para o mundo que eu quero descer, como dizia o Raul Seixas. Isso não vai dar certo nunca. E muito professor sem base para ensinar. Outro dia, em um fórum em rede social, discutia-se diversidade e inclusão na Segurança, ainda de forma muito rasa, preconceituosa e de argumentação fraca de conteúdo e de referências. Importante hoje, discutir temas como aqueles que abordamos no painel do último dia 30 de setembro no congresso da Proteção – espiritualidade, D&I, gerenciamento de projetos, desenho universal, early involvement, são conceitos que enriquecerão o pipeline de um profissional de segurança nos dias de hoje. E, claro, sem esquecer que a formação e excelência técnica são os alicerces disso tudo. E para quem puder, um inglesinho e um espanhol também ajuda muito. Ouvir ou ler os caras sem os filtros de quem traduz é importante prá caramba.

Vivemos uma encruzilhada há alguns anos. A segurança do trabalho deixou de ser dona da segurança no trabalho, que é um tema totalmente multidisciplinar. E muito engenheiro de segurança ainda não percebe isso. Vejo uma tremenda evolução ainda latente, mas que pode ganhar mais e mais espaço. Tem engenheiro antigo, dos precursores, achando que o papel do EST é ser assessor e projetar sistemas de proteção coletiva. Disse isso dias atrás… e o pior é que é professor. Outro sugere norma ABNT para laudos periciais de insalubridade e periculosidade. Tá certo, os laudos são uma bagunça. Mas a questão é outra – insalubridade e periculosidade devem existir? Por que?  Como eu disse ao Josué na palestra do Jean-Christophe Le Coze em São José dos Campos (SP), o processo de evolução da segurança no trabalho é longo, e ainda está no começo…

O segredo, para toda a comunidade da Segurança, é trabalhar sério, ser ético e aprender sempre. O que eu fiz… sempre fui um servidor, nunca me limitei ao meu job description. Tem até a história do meu casamento, que mudei a data para atender um compromisso fora da minha área – fui convidado para ser o líder dos auditados numa auditoria de RESO (Real Estate & Site Operations) em 1994. E saber aproveitar as oportunidades. Como dizia o Lobão, melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez.

E quem quiser ver essa live bem interessante que mencionei lá no começo, basta clicar aqui!

Uma nova visão de segurança se propõe a discutir o futuro da segurança no trabalho, cada vez mais multidisciplinar e inclusivo. Ivan Rigoletto é engenheiro químico e de segurança do trabalho, mestre em Engenharia Civil, MBA em Gestão Empresarial e doutor em Engenharia Mecânica. Está na indústria há mais de 30 anos, a metade como executivo de Segurança e ESG. É professor universitário, autor e coautor de diversos livros e artigos. Foi condecorado pelo Corpo de Bombeiros de Campinas. Estreia como articulista regular no blog da Proteção.
ivanrigoletto@gmail.com

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