sexta-feira, 27 de junho de 2025

O TST dos carrascos

Não me pergunte como, não entendo da parte técnica, mas na empresa em que eu trabalhava inventaram uma máquina do tempo e como sou muito curioso acabei me enrascando, pois entrei na máquina e fui parar na França de 1700.

Meu amigo leitor, não adianta fazer boca torta, é simplesmente um fato que você tem de aceitar para continuar a leitura ou também pode desistir agora, por causa de uma simples birra com o autor.

Ao chegar em um país desconhecido, sem saber como voltar, sem saber a língua local e tendo como formação o curso de Técnico de Segurança do Trabalho, fiquei sem saber o que fazer. Durante alguns meses, tive que mendigar pelas sujas ruas e aos poucos fui aprendendo a língua local. Estava em uma situação de miséria quando passando pela empresa “Les Têtes Roulent” vi uma placa que estavam contratando, corri e perguntei qual era o serviço.

Fiquei estarrecido, estavam com necessidade de Carrascos, o normal era ser uma profissão de que passava de pais para filho ou acabavam obrigando os açougueiros, mas pelo que entendi estavam com dificuldades e resolveram ver se alguém se candidatava.

Não, meu caro leitor, óbvio que eu não aceitei. Mas fiquei curioso com a situação e conversando com o coordenador da empresa entendi que haviam ocorrido diversos problemas de acidentes com os carrascos e por isso estavam sem profissionais.

Pensei um pouco e achei que poderia ser uma oportunidade. Não entendo de tortura, mas de acidente do trabalho eu tinha experiência. Negociei com o patrão que por duas refeições diárias eu avaliaria a situação e apesar de não prometer novos cortadores de cabeça eu iria garantir a diminuição nos afastamentos.

O coordenador acabou indo com a minha cara e me contratou. Fiz uma inspeção geral no local de trabalho e percebi que os tablados eram altos e havia a possibilidade de queda. Minha primeira ação foi indicar a colocação de um guarda corpo. O chefe disse que realmente já havia ocorrido queda de carrascos, mas que sairia muito caro colocar a proteção em todas as plataformas.

Dei então a alternativa de amarrar uma corda na cintura dos trabalhadores, como um cinto de posicionamento, ou seja, iria limitar a movimentação e impedir que o carrasco chegasse à borda da plataforma. Os carrascos não gostaram (o que não foi uma boa situação para mim), mas pelo menos o chefe aprovou.

Outro item que consegui implantar de imediato foi o procedimento de amolar os machados antes de cada dia de trabalho, além disso estabeleci um rigoroso treinamento com abóboras para fazer com que fosse possível realizar o corte com apenas uma machadada.

Não sei se você sabe, mas quando o carrasco precisava de mais de três golpes para concluir o seu macabro serviço, poderia ser fortemente punido.

Nos treinamentos, reforcei o conhecimento de anatomia, pois isto facilitaria o serviço do carrasco.

Além dessas ações mais fáceis, percebi que o grande problema do posto de trabalho era a elevada carga mental. Imagine que o seu trabalho fosse ter de decapitar pessoas, além de não ser um serviço bem visto pela sociedade, havia todo um sofrimento pessoal.

Não, meu amigo leitor, não tinha como contratar psicólogos para os carrascos. Primeiro eu não tinha verba, além disso, os primeiros psicólogos profissionais só iriam surgir depois de mais de 100 anos.

Mas tive outra ideia, pois apesar de ter visto muitos filmes que falam que não devemos mudar o passado, pois isto terá consequência no futuro, resolvi inovar (não tinha esperança de voltar para o futuro mesmo). Adiantei a invenção da guilhotina, porém com uma inovação, um mecanismo com três alavancas, ou seja, o carrasco era responsável por todo o processo, mas na hora de puxar a alavanca mais duas pessoas eram convidadas a puxar junto e nunca ninguém saberia quem realmente teria matado o condenado. O que passou a aliviar um pouco o remorso dos carrascos.

Tudo bem, concordo que não foi uma ideia tão boa, mas foi a única que eu consegui implantar.

Ainda tinha mais um perigo que precisava ser resolvido. Após o golpe era sangue para todo lado e o carrasco tinha que limpar tudo, se expondo à possibilidade de doenças.

Realizei um treinamento com o mínimo de manuseio do corpo e com as proteções possíveis. Após todas essas melhorias consegui reduzir a taxa de afastamentos em 20%, mas como não tinha muito mais o que fazer acabei sendo demitido. Pelo menos meu chefe me indicou para o Luís XIV, famoso Rei Sol, para fazer melhorias de Segurança no exército real francês. Espero rapidamente conseguir as melhorias, pois senão vou acabar vendo meus antigos colegas de trabalho, mas não de um ângulo muito agradável.


O blog Segurito na Proteção trata de questões relacionadas à SST. É editado pelo professor Mário Sobral Jr, que é Mestre, engenheiro de Segurança do Trabalho, especialização em Higiene Ocupacional e Ergonomia e Editor do Jornal Segurito.
mariosobral@jornalsegurito.com

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