Oi, gente. Eu de novo. Para aqueles que me acompanham, quero justificar estar publicando apenas hoje. Novembro foi um mês bem agitado… Compromissos profissionais diversos em MG, inclusive num seminário organizado por uma mineradora, palestra na UnB no lançamento do projeto LABSeguro, uma ideia disruptiva da profª Andrea e de seu time, benchmark numa siderúrgica no Sul, e uma semana de avaliação de Cultura de Segurança num complexo mineiro no Chile. Muitas milhas, a serem utilizadas neste janeiro em férias com a família. Mas, chega de justificar o atraso no post. Vamos a ele.
Já ouviram falar de um conceito chamado Desenho Universal? Com certeza muita gente já, mas para aqueles que ainda estão aprendendo, é uma forma de se trabalhar sistemas, objetos, espaços e serviços de modo a atender as pessoas em todas as suas diferenças, e não apenas uma pessoa de padrão médio em estatura, cognição e outros aspectos “médios”. A média quase nunca representa uma pessoa. E, também, que não seja apenas adequada a pessoas com alguma necessidade particular, e sim que beneficiem a todos os usuários de um sistema, objeto, espaço, serviço, entre outros. Mais do que uma forma, é um conceito beeeem mais amplo até que a norma ABNT 9050, que trata de acessibilidade.
Antes de discutir a aplicação desses conceitos na Segurança, vou propor aqui algumas questões – será que os conceitos de Desenho Universal devem ser usados apenas para uma maior inclusão de PCDs nos ambientes de trabalho? Ou será que todos nós seremos PCD algum dia, de forma definitiva ou mesmo temporária – idade chegando, deficiência auditiva, óculos cada vez mais grossos, mobilidade reduzida, memória, fratura de um membro superior ou inferior? Eu acredito que todos nós, se já não temos, teremos uma ou mais deficiências no futuro.
E se isso é verdade, por que não começamos a usar esses conceitos no projeto de ambientes de trabalho e arranjos físicos de espaços industriais de modo a que ao mesmo tempo em que sejam mais inclusivos (o que é fundamental na sociedade ESG de hoje), sejam também capazes de inserir “erros” nas equações de Segurança, necessidade solidamente sustentada pelas Novas Visões?
Importante identificar os sete princípios do Desenho Universal – uso equitativo (que descrevemos no parágrafo anterior), flexibilidade de uso, uso intuitivo e informação perceptível (hipernecessários nos ambientes industriais e tudo a ver com a Psicologia Social do Risco – e aí também está a associação da semiótica com Desenho Universal, que também considera, claro, aspectos relacionado à cognição), baixo esforço físico, espaço suficiente para acesso e uso, e tolerância ao erro (olha o HOP e as Novas Visões aí, gente!!!). Faz todo sentido estar junto com a Segurança!!!
Mas como podemos fazer isso na prática? Pensar em co-criação com as pessoas nas questões como cor de avisos e sinalização, tamanhos de letra, sinalização de piso, plataformas e bancadas de trabalho reguláveis e adaptáveis, iluminação adequada que não provoque ofuscamento, tratamento acústico que evite reverberação (no mundo real das empresas acontece muito isso), abertura para escutar de verdade, mas de verdade mesmo, as sugestões das pessoas. Coisas muitas vezes simples – placas de entendimento imediato por qualquer pessoa, uso de mensagens de voz onde necessário, uma maçaneta adequada, um cabo de ferramenta um pouco mais largo ou com uma borracha, uma panela com cabo dos dois lados para quem tem artrite, um conjunto de cores e tons adequados também para pessoas daltônicas, abridor de lata e ferramentas para canhotos, enfim, nenhum supergasto a mais nos projetos ou nas reformas, e nenhuma ciência de foguete. Apenas estudo, bom senso e boa vontade. Assim deve ser a Segurança do futuro. Bem fundamentada, simples e inclusiva.
Tem muita gente séria fazendo pesquisa boa nessa área. Apenas para citar um local, a Faculdade de Arquitetura da Unicamp vem estudando bastante as questões de Desenho Universal na pós-graduação. Nesse texto, me ajudou uma aluna do mestrado, a arquiteta e engenheira de segurança Angela Silingardi. Aliás, quem quiser conhecer um pouquinho mais dessa “mistura” de conceitos, tem este livro, publicado em 2021. Eu e ela escrevemos juntos o Capítulo 1 na página 23. Até a próxima.

Uma nova visão de segurança se propõe a discutir o futuro da segurança no trabalho, cada vez mais multidisciplinar e inclusivo. Ivan Rigoletto é engenheiro químico e de segurança do trabalho, mestre em Engenharia Civil, MBA em Gestão Empresarial e doutor em Engenharia Mecânica. Está na indústria há mais de 30 anos, a metade como executivo de Segurança e ESG. É professor universitário, autor e coautor de diversos livros e artigos. Foi condecorado pelo Corpo de Bombeiros de Campinas. Estreia como articulista regular no blog da Proteção.
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