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terça-feira, 24 de junho de 2025

REPORTAGEM ESPECIAL | Óculos de segurança: De olho na proteção – Ed. 370

Por Marla Cardoso/Jornalista da Revista Proteção

Além do foco na segurança, empresas têm investido no conforto e design dos óculos de proteção

Em 2020, os olhos foram a quinta parte do corpo mais atingida em acidentes de trabalho típicos no país. Os dados mais recentes do Anuário Estatístico da Previdência Social mostram que, em 2020, 11.952 ocorrências atingiram o órgão, atrás somente das registradas nos dedos, pés (exceto artelhos), mãos (exceto punho ou dedos) e joelhos. Claro que se comparado com os mais de 93 mil acidentes que atingiram os dedos, que estão no topo da lista, o número é menos impactante, mas nem por isso menos relevante. Isso porque acidentes nos olhos podem provocar queimaduras, perfurações, presença de corpo estranho, contusões, além de alergias, inflamações e infecções, inclusive com danos irreversíveis.

Responsável pela proteção ocular, os óculos de segurança vêm evoluindo, com fabricantes nacionais e internacionais investindo em tecnologias cada vez mais modernas e que colaboram para preservar o globo ocular de lesões causadas por partículas de poeira, respingos, vapores químicos, metais em fusão, alta ou baixa luminosidade e radiações ultravioleta (UVA e UVB). Assim como para outros Equipamentos de Proteção Individual, a normatização também garante que estes EPIs sejam submetidos a ensaios, além da necessidade da emissão do CA (Certificado de Aprovação) às empresas importadoras ou fabricantes nacionais.

Tudo para garantir que os óculos cheguem aos trabalhadores com o nível de proteção exigido para as atividades que desempenham. Além da preocupação com a segurança, as empresas também não têm medido esforços para pensar no conforto e no design desses produtos. Equipamentos mais confortáveis tendem a ser mais utilizados. Só basta saber se eles estão chegando aos olhos dos trabalhadores.

A história dos óculos remonta à pré-história e, curiosamente, eles surgiram com a função de proteger. Não exatamente os trabalhadores, mas os Inuit, tribos nativas do Alasca que fabricavam o acessório para se proteger da cegueira das neves causada pela clara atmosfera, pelo alto grau de radiação e pelo reflexo da neve. Sua fabricação era rústica, a partir de materiais como madeira, ossos ou marfim e tiras de pele de baleia, mas as pequenas fendas feitas nas peças serviam como filtro da luminosidade do ambiente. Ao longo da história, os óculos ganharam status de enfeite para o rosto e, apenas no ano de 1270, na Alemanha, tiveram a sua primeira versão com lentes corretivas.
De lá para cá, a tecnologia das lentes e armações evoluiu. E essa evolução não chegou somente nos modelos corretivos. Os óculos de segurança também avançaram. Em matéria-prima, design, conforto e, claro, no nível de proteção. A obrigatoriedade da utilização desses EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) no país surgiu em 1943, por meio do Decreto Lei nº 5.452, de 1º de maio. Foi a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) a primeira a determinar que a empresa era obrigada a fornecer aos empregadores o EPI necessário ao respectivo risco da atividade desempenhada, mas ainda sem fazer menção ao tipo de equipamento.

Foi mais tarde, em 1978, que uma Norma regulamentou o trabalho com o uso de EPIs. A NR 6 traz no Anexo I a relação de EPI para proteção dos olhos (veja no box O que diz a NR 6 sobre a proteção dos olhos). A Norma também determina as responsabilidades dos fabricantes e importadores desses produtos, bem como os procedimentos para emissão e renovação do CA (Certificado de Aprovação), emitido pelo Ministério do Trabalho, e obrigatório para a comercialização dos equipamentos. Na época em que as NRs foram criadas, até a década de 1980, o design e o conforto não eram uma preocupação dos fabricantes. A armação dos óculos de proteção era trabalhada em metal e as lentes em vidro temperado.

Neves: evolução | Crédito: Arquivo Pessoal

MATÉRIAS-PRIMAS

O diretor comercial da Allprot, de São Paulo/SP, Alexandre Campos de Oliveira Neves, lembra que até o início dos anos 1990 não havia liberdade no desenvolvimento dos modelos, pois existia uma regra, denominada padrão S7, que determinava que a diferença entre altura e largura das lentes deveria ser de 7mm. “Isso impedia qualquer despertar criativo. Com a adoção de novas normas de ensaio e a abertura das importações, começamos a ter acesso a novos modelos e, com isso, novas matérias-primas e tendências de design. No quesito matéria-prima, surgiram materiais mais resistentes e nas lentes, além das de cristal e resina, surgiu o policarbonato”, relembra.

Reganatti: novos materiais | Crédito: Arquivo Pessoal

O engenheiro eletricista, com mais de 20 anos de experiência no mercado de EPIs e coordenador do Comitê de Estudos do CB 32 (Comitê Brasileiro de Equipamento de Proteção Individual) da ABNT para Proteção Ocular e Facial, Carlos Reganatti, também atribui ao policarbonato, como material para as lentes, como o grande advento dos óculos de proteção, admitindo que os fabricantes passassem a elaborar os produtos com design. “O policarbonato permitiu configurações curvilíneas e melhor acabamento dos óculos. Para o usuário, resultou em mais atratividade, leveza e conforto, pois para uma mesma lente o policarbonato apresenta um peso 50% menor que o correspondente em vidro”, explicou. Reganatti afirmou que essa matéria-prima ainda admite aditivos para oferecer proteção a radiações UV (ultravioleta), IR (infravermelha-calor), espelhamento e inúmeras cores para diversas aplicações.

Além do policarbonato há, conforme o coordenador do Comitê de Estudos CE 032:003.001 do CB 32, a resina CR-39, desenvolvida como plástico reforçado para aviões na 2ª Guerra Mundial (39ª fórmula proposta pela empresa Columbia Resin). “O CR-39 é mais usado para as lentes de proteção de grau por facilitar a chamada “surfaçagem” (polimento para obtenção da potência óptica da lente especificada). Ainda há outras resinas disponíveis no mercado e, para assegurar a proteção, cumprindo com as normas técnicas, o fabricante deve projetar e produzir o equipamento de forma a atender plenamente os requisitos ópticos contra impacto, radiação e respingos”, destacou.

A chegada do policarbonato nos anos 90 revolucionou o mercado | Crédito: Divulgação MSA

TRATAMENTOS

As lentes dos óculos de proteção, de acordo com o gerente de Produtos Proteção Contra Quedas e Proteção aos Olhos da MSA, Rogério dos Santos de Souza, também têm ganhado, cada vez mais, tratamentos antirriscos e anti-embaçantes. “Além dos materiais mais leves para proporcionar mais conforto ao trabalhador, hoje estes tratamentos nas lentes são bem difundidos entre os fabricantes por gerar maior durabilidade aos óculos de proteção e maior produtividade e segurança para o trabalhador”, afirmou.
O conforto também tem sido uma das máximas da 3M, que relaciona a produtividade do trabalhador à qualidade do equipamento que utiliza. “Vamos pensar em um usuário que trabalha em um turno de fábrica de oito a 10 horas. Se o EPI não for confortável, ou o trabalhador terá que fazer mais paradas ao longo da jornada, ou ele não utilizará o equipamento, ficando mais suscetível a acidentes”, chamou a atenção o gerente de Marketing de Produto da 3M, Alex Pinheiro da Silva.

A preocupação das fabricantes com o conforto dos óculos de proteção se reflete nas tecnologias empregadas, em especial as que permitem que o trabalhador possa operar em diferentes tipos de ambientes com mais performance. Silva cita o exemplo das lentes transparentes, e as cinzas opacas, chamadas de indoor e outdoor, que servem para os trabalhadores expostos, em uma mesma atividade, a iluminação interna e externa. “Um carregador de empilhadeira, por exemplo, que entra e sai o tempo todo do armazém e está exposto tanto à luz solar, quanto ao ambiente interno”, explica.

Quesito conforto garante uso do EPI por maior tempo | Crédito: Divulgação MSA

O gerente também cita as lentes cinzas, utilizadas para trabalho em exposição solar, as amareladas, chamadas de âmbar, para trabalhos noturnos, além dos óculos que têm tratamentos e colorações que permitem trabalhos em locais onde há alta radiação infravermelha, os modelos de lente esverdeada, usados em siderurgia, por exemplo. “Cada vez mais vemos que os óculos estão recebendo coloração de lentes e tratamentos para atividades específicas, que exigem este EPI com diferentes tipos de tratamento”, completou Silva.
Apesar dos avanços tecnológicos na fabricação da proteção ocular, quem atua no dia a dia do setor ainda acredita que a busca das empresas unicamente pelo custo, e não pelo custo-benefício do produto, faz com que os óculos com maior tecnologia não cheguem aos olhos de grande parte dos trabalhadores no país. “Por exemplo, o uso de óculos de proteção com tratamento anti-risco. Eles possuem um maior custo, mas em contrapartida apresentam maior durabilidade. Da mesma forma, os óculos de proteção com tratamento antiembaçante, que trazem mais conforto ao usuário, bem como maior produtividade no trabalho”, justificou o gerente da MSA.

Para Silva, da 3M, a receptividade do mercado para os óculos com mais investimento tecnológico está maior e tende a melhorar. “Existe hoje, e sempre vai existir, uma procura pelo melhor custo-benefício, mas estamos conseguindo mostrar o que a empresa ganha com os óculos diferenciados. Que há melhora de produtividade, na saúde do trabalhador, em especial pelos EPIs serem utilizados de forma conjugada, oferecendo mais proteção. E, cada vez mais, temos visto empresas reconhecendo isso e levando para dentro do seu catálogo de EPIs produtos com diferenciais”, concluiu.


MERCADO EM EXPANSÃO

Casanova: predomínio dos importados | Crédito: Bruno Leite

No mercado de EPIs, os óculos de segurança se destacam. Durante a pandemia, esses equipamentos foram essenciais na proteção dos trabalhadores da saúde e colaboraram para complementar, junto com as máscaras e protetores faciais, o nível de proteção contra a Covid-19. De acordo com o relatório Indicadores do Mercado Brasileiro de Equipamentos de Proteção Individual 2022, elaborado pela Animaseg (Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho), com dados do mercado de 2021, somente naquele ano foram comercializados no país 30,1 milhões de óculos de proteção. A maioria deles, 27 milhões, no modelo tradicional, de policarbonato ou outros materiais. Ainda conforme o documento, outros 1,6 milhão foram óculos de ampla visão, 1,2 milhão de sobreposição e 130 mil com grau.

O levantamento realizado pela Animaseg demonstra que este mercado está em expansão. Em 2018, por exemplo, foram produzidos 18,8 milhões de óculos no país. A expectativa da entidade era que os números de 2021 ultrapassassem os 33 milhões de unidades vendidas. Conforme a análise da Associação, foi observado um leve aumento de óculos de segurança para serem utilizados na área médico-hospitalar, mas como todos os demais EPIs, os desafios de mercado se devem à disponibilização da matéria-prima e embalagens, além do aumento de custos das matérias-primas para a demanda do produto.

DIFICULDADES

Segundo o relatório da entidade, o grande problema ainda pode ser atribuído à concorrência com os produtos importados, que chegam a preços muito baixos e sem qualquer proteção para a indústria nacional. “Isso já se reflete no pequeno número de empresas desse setor que se mantiveram ativas nos últimos anos, pois muitas não puderam competir com outros países, onde não são exigidas regras trabalhistas equivalentes, nem tributação equivalente à imposta aos produtos brasileiros”, concluiu o diretor executivo da entidade Raul Casanova Junior.
A solução, na visão da Animaseg, seria uma política estratégica que priorizasse, ou pelo menos, equilibrasse as exigências às indústrias brasileiras e as dos países exportadores para o Brasil, analisou o grupo setorial de Face e Olhos da Associação. A constatação pode ser confirmada com o número de CAs de óculos de segurança emitidos pelo Ministério do Trabalho até setembro de 2022. Conforme o relatório, dos 504 Certificados de Aprovação concedidos, 171 foram nacionais e 333 importados. Hoje, a maioria dos óculos de proteção utilizados no Brasil são importados principalmente de países asiáticos.


Parâmetros bem definidos

Normatização quer qualidade na produção dos óculos de segurança

A salvaguarda para o trabalhador e para a empresa em relação à proteção dos óculos de segurança, assim como para outros EPIs, é que o equipamento tenha o CA (Certificado de Aprovação), emitido pelo Ministério do Trabalho às empresas importadoras ou fabricantes legalmente estabelecidas no país. Os procedimentos e requisitos técnicos enquadrados no Anexo I da NR 6 devem respeitar as normatizações previstas na Portaria 11.437, de 6 de maio de 2020, substituída pela Portaria 672, de 8 novembro de 2021 com alterações da Portaria 549, de 9 de março de 2022.

Para certificar óculos de segurança, o modelo deve ser submetido a ensaios em um laboratório credenciado pela Coordenação Geral de Normatização do Ministério do Trabalho e Previdência, que irá emitir um laudo com os resultados. De posse desse laudo, o fabricante ou importador submete o pedido de obtenção do CA à SubSIT (Subsecretaria de Inspeção do Trabalho).
Estes ensaios seguem a norma americana ANSI/ISEA Z87-2015, que estabelece critérios relacionados aos requisitos gerais, ensaio, marcação permanente, cobertura lateral, impacto de alta velocidade, penetração, transmitância, filtro de luz, risco de respingos líquidos, entre outros. A versão atual desta norma estabelece critérios relacionados a riscos contra impactos de partículas volantes, luminosidade intensa, radiação ultravioleta e radiação infravermelha.

COMITÊ

Conforme o engenheiro eletricista, com mais de 20 anos de experiência no mercado de EPIs e coordenador do Comitê de Estudos para Proteção Ocular e Facial do CB 32 (Comitê Brasileiro de Equipamento de Proteção Individual) da ABNT, Carlos Reganatti, o CE é responsável pela elaboração e atualização das normas envolvendo este tipo de EPI e seu objetivo atual é prover o mercado brasileiro com nova norma, que será a NBR-ISO. “Isto é, a norma ISO com a chancela da norma brasileira ABNT. Um mercado que usa a norma ISO tem imensa abrangência, tanto para desenvolvimento tecnológico como para o comércio internacional”, reforçou.

Modelos passam por ensaios para obtenção de laudo e CA | Crédito: Arquivo

Segundo Reganatti, o Comitê do CB 32 para Proteção Ocular e Facial reúne-se regularmente, congregando executivos interessados no tema. Estas reuniões são coordenadas pela Animaseg e estão abertas a empresas fabricantes, importadoras e usuárias de EPIs para proteção ocular e facial. Recentemente, conforme o coordenador, foi criado o CTEN (Comitê Técnico de Estudos Normativos) – para óculos e protetores faciais. O objetivo do CTEN é ser um foro de troca de informações para atendimento a usuários e fabricantes, com reuniões regulares e abertas a todos os interessados.

LENTES GRADUADAS

Em relação aos trabalhadores que utilizam óculos de grau e necessitam de óculos de proteção, também há uma regulamentação. Conforme Reganatti, as Notas Técnicas 282 e 363 do Ministério do Trabalho estabeleceram critérios para que óculos de proteção tenham lentes graduadas na armação ou através de clipes de inserção. A recente atualização da NR 6 também incluiu no texto que a seleção do EPI deve considerar o uso de óculos de segurança de sobrepor em conjunto com lentes corretivas ou a adaptação do EPI, sem ônus para o empregado, quando for necessária a utilização de correção visual pelo trabalhador no desempenho de suas funções. Os modelos de sobrepor são específicos para a sobreposição aos óculos corretivos. Com estas determinações, conforme o coordenador do CB 32, ficaram também definidas as responsabilidades legais dos fabricantes.

Por outro lado, na opinião de Reganatti, óculos de sobrepor a óculos de grau não asseguram proteção ao trabalhador visto que, em caso de impacto, este é transmitido dos óculos de sobrepor aos óculos comuns. “Além disso, se o trabalhador estiver em instalações elétricas usando uma armação metálica por debaixo de óculos de sobrepor, há o perigo de contato acidental ou indução de corrente. Acrescente-se a isso o desconforto pelo uso contínuo de duas armações e ainda quando se utiliza simultaneamente com abafadores de ruído tipo concha”, alerta. Ele recomenda que se utilize óculos com lente de grau na armação ou clipes de inserção que sejam certificados e de fabricantes estabelecidos.

Quem está no dia a dia do mercado, como o gerente nacional de Produtos da Kalipso, Leandro Nunes, observa que existem no mercado boas opções para usuários que utilizam óculos de grau. Dentre elas, cita modelos de sobrepor, de clip interno, e os óculos de lente removível, quando o cliente pode procurar uma ótica de confiança e qualidade que realize a confecção das lentes graduadas. “As mesmas com a inserção de policarbonato, como determina a norma, seguindo todos os parâmetros para que o usuário obtenha a proteção necessária contra partículas volantes e raios ultravioleta, como exposto na norma ANSI Z.87.1 2015, que é o mesmo material empregado nas lentes que são confeccionadas, testadas e aprovadas, como consta no CA de nossos EPIs”, destacou.


O QUE DIZ A NR 6 SOBRE A PROTEÇÃO DOS OLHOS

Responsável por regulamentar a execução do trabalho com uso de EPI, a NR 6 descreve no item B.1 do Anexo I, a lista de Equipamentos de Proteção Individual para os olhos:

a) Óculos para proteção dos olhos contra impactos de partículas volantes;

b) Óculos para proteção dos olhos contra luminosidade intensa;

c) Óculos para proteção contra radiação ultravioleta;

d) Óculos para proteção dos olhos contra radiação infravermelha;

e) Óculos de tela para proteção limitada dos olhos contra impactos de partículas volantes (em cumprimento à decisão judicial proferida nos autos 2008.38.11.001984-6, em trâmite na 2ª Vara do Juizado Especial Federal da Subseção Judiciária de Divinópolis/MG).

O novo texto da NR 6, publicado dia 5 de agosto por meio da Portaria 2.175, promoveu pequena inclusão neste anexo, inserindo no item “e” a referida decisão judicial.


Investimento em tecnologia

Fabricantes apostam em inovação para aumentar a demanda

Silva: observar a rotina | Crédito: Arquivo Pessoal

A regulamentação é um bom termômetro para a atualização no desenvolvimento dos óculos de proteção, assim como de outros EPIs. À medida que as normas se tornam mais exigentes, os fabricantes buscam inovar ofertando soluções que garantam mais proteção aos trabalhadores, que confiram mais conforto e estejam alinhadas à rotina laboral. E foi justamente observando a realidade do dia a dia dos trabalhadores que a 3M passou a desenvolver seus óculos de segurança levando em conta que os produtos seriam utilizados em conjunto com outros EPIs. “Se vamos a uma indústria e vemos o operário utilizando o EPI, ele não está usando só os óculos, o abafador, o capacete, está usando todos juntos”, refletiu o gerente de Marketing de Produto da 3M, Alex Pinheiro da Silva.

A partir dessa observação, a 3M desenvolveu uma linha de óculos com uma haste super fina, flexível e curvada, que transfere toda a pressão da haste para a parte de trás da cabeça, aliviando a têmpora e evitando desconfortos ou até dor de cabeça. “Essa linha é extremamente flexível para ser utilizada com abafador, por exemplo. Quando o trabalhador utiliza um abafador, é justamente a concha do equipamento e a vedação no rosto que irá atenuar o ruído. Mas se ele colocar um óculos com uma haste mais grossa, é formado um espaço entre o óculos, o rosto e o abafador que permite que o ruído entre. Um óculos com uma haste mais fina diminui essa barreira”, afirma.

Este produto também foi pensado para a utilização conjugada com equipamentos de proteção respiratória. Desenvolvido com uma lente que pode ter o ângulo ajustado ao ser utilizada em conjunto com máscara, é mais confortável, pois não embaça e não machuca o nariz. O produto também traz diversas cores de lentes e pode ser usado em diferentes atividades. “Temos outro óculos com a haste removível, que pode ser substituída por uma fita elástica e vem com vedação de espuma que traz uma proteção maior para ambientes com partículas, além de um design esportivo, com lente com tratamento antirrisco e antiembaçamento”, detalhou.

BEM-ESTAR

Souza: mais leveza | Crédito: Divulgação MSA

O conforto também é uma das premissas da MSA, que aposta na tecnologia das matérias-primas para produzir óculos leves. Um dos seus modelos, por exemplo, pesa somente 16 gramas. “Contamos também com modelos com tecnologia que apresenta um desempenho ainda superior à linha de óculos com tratamento antiembaçante, gerando uma experiência melhor ao usuário relativa à prevenção quanto ao embaçamento dos óculos de proteção”, detalhou o gerente de Produtos Proteção Contra Quedas e Proteção aos Olhos da MSA, Rogério dos Santos de Souza. A marca também aposta em óculos de proteção com a tecnologia inside e outside, que, com sua lente espelhada, proporciona boa visão em ambientes internos e realiza a devida proteção em ambientes de luz.

Nunes: antiembaçantes | Crédito: Arquivo Pessoal

Outra fabricante de óculos de segurança, a Kalipso, de São Paulo/SP, conta que a linha destes EPIs representa 30% do negócio da empresa. Atualmente, a marca conta com 20 modelos de óculos de proteção e sete de óculos de ampla visão, utilizados nas mais variadas atividades da construção civil, serviços e indústrias em geral. “Atualmente, estamos trabalhando com uma tecnologia antiembaçante de alta qualidade, um revestimento especial que diminui a formação de gotículas de água criando uma película de proteção na lente, diminuindo assim a remoção dos óculos para limpeza, e aumentando o tempo de uso dos óculos pelo trabalhador, deixando o mesmo menos exposto a possíveis riscos”, contou o gerente Nacional de Produtos da Kalipso, Leandro Nunes.

Já na Alprott, o mercado de proteção ocular corresponde a mais de 90% das vendas da empresa, mas com foco maior em óculos de segurança com graduação (lentes corretivas) e riscos bem específicos, como proteção contra radiações infravermelhas, respingo de líquidos e pós e poeiras dispersas. Entre modelos, cores e tamanhos, são quase 100 produtos à disposição, atendidos por uma equipe técnica com especialização óptica em todo o território nacional.

De acordo com o diretor comercial da Alprott, Alexandre Campos de Oliveira Neves, a fabricante utiliza materiais de última geração e as mais modernas tecnologias nas lentes e nos tratamentos de superfície. “Temos lentes filtrantes da luz azul, lentes antirreflexo, antiembaçante e somos a única empresa a ofertar uma solução de lentes contra radiação infravermelha com filtros em quatro tonalidades – 1.7, 3.0, 5.0 e 8.0 – todas para quem precisa de lentes graduadas ou mesmo planas (sem grau)”, detalhou. Recentemente, a Alprott também lançou a lente fotossensível polarizada. “Todos os designs foram desenvolvidos para o biotipo brasileiro e são voltados para amplas possibilidades de graduação”, completou o diretor.

ORIENTAÇÃO

Desenvolvimento do produto deve considerar uso conjunto com outros EPIs | Crédito: Divulgação 3M

A preocupação das fabricantes com a inovação é visível, mas será que as empresas que adquirem estes produtos sabem fazer a escolha mais acertada na hora da compra? Observar alguns aspectos pode ajudar. Conforme o engenheiro eletricista, com mais de 20 anos de experiência no mercado de EPIs e coordenador do Comitê de Estudos do CB 32 (Comitê Brasileiro de Equipamento de Proteção Individual) da ABNT para Proteção Ocular e Facial, Carlos Reganatti, a primeira salvaguarda às empresas é que os óculos, assim como todos os EPIs, sejam testados e certificados com CA, o Certificado de Aprovação emitido pela Secretaria do Trabalho.

No que diz respeito a óculos de proteção com lentes graduadas, Reganatti ainda cita que deve ser verificado se as responsabilidades pelo CA da armação e da lente de grau estão formalizadas e cumprem com os requisitos exigidos pelas notas técnicas da Secretaria do Trabalho. “Esta certificação deve ser renovada regularmente pelo fabricante conforme exigido por lei. Lembrando que o EPI não evita o acidente, mas deve evitar a lesão. Lesão significa dor ao trabalhador e à sua família, bem como um inesperado prejuízo para a empresa e para a sociedade”, reforçou.

Outro passo imprescindível na hora da compra é a empresa saber a quais riscos o colaborador está exposto. “Antes de adquirir um óculos de proteção é primordial levar em conta o ambiente, a atividade e os riscos, para se definir o melhor modelo, com a correta proteção, para garantir a melhor produtividade e maximizar a segurança do trabalhador”, afirmou Souza, da MSA. Outro item importante, de acordo com o gerente, é a análise quanto ao conforto do EPI ao ser utilizado, visto que grande parte das consequências geradas pelos acidentes vem do não uso do equipamento. Então quanto mais confortável for o produto, maior será a sua aceitação pelo usuário.

Já o diretor comercial da Allprot acredita que outra escolha acertada consiste em buscar um fornecedor idôneo e comprometido com a fabricação de produtos que atendam às normas vigentes como um ato contínuo e não apenas para a mera certificação dos produtos. “Esse trabalho em conjunto com o fornecedor vai propiciar ao usuário final um produto eficiente na proteção e com a melhor relação custo/benefício para a empresa que compra. Não adianta economizar na compra do EPI tendo que gastar mais com afastamentos dos colaboradores, maior reposição do próprio EPI e até com processos trabalhistas. Um trabalhador protegido, que se sente valorizado, trabalha melhor, com mais eficiência e com menos risco a ele e aos colegas”, completa Neves.

É preciso estar atento aos riscos para fazer a melhor escolha | Crédito: Divulgação MSA

A conservação dos óculos de segurança também colabora para garantir uma correta proteção. “O correto armazenamento, em temperatura ambiente, com as lentes sempre voltadas para cima para evitar riscos nas lentes, além da correta higienização, como a remoção das partículas com um pano suave e a completa higienização com água morna e sabão neutro antes do armazenamento do produto, prolongam a sua vida útil”, recomenda Souza, da MSA.

A prática demonstra que empresas que produzem ou importam óculos de segurança com foco na qualidade estão alinhadas na tríade proteção, conforto e design e que o desenvolvimento de óculos de segurança que atenda às diferentes atividades do mundo do trabalho é cada vez mais uma realidade. Resta que toda essa informação sobre a inovação nesses equipamentos chegue às empresas compradoras. E mais: que elas entendam os diferenciais que produtos com mais investimento tecnológico têm sobre a proteção dos seus trabalhadores.

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