Por MixVale
Movimentos repetitivos, posturas inadequadas e esforços intensos marcam o cotidiano de milhões de trabalhadores. Essas condições, muitas vezes negligenciadas, resultam em lesões como a tendinite, uma inflamação que afeta tendões e compromete a capacidade laboral. Conhecida também como LER/DORT (Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), a tendinite é uma das principais causas de afastamento no Brasil. A Organização Mundial da Saúde estima que uma em cada 100 pessoas sofre com a condição.
No Brasil, o INSS reconhece a tendinite como uma doença ocupacional, o que abre portas para benefícios previdenciários. A dor persistente, o inchaço e a limitação de movimentos forçam trabalhadores a buscar amparo. Muitos desconhecem, porém, os direitos garantidos por lei.
Com a crescente demanda por direitos previdenciários, o tema ganha relevância em 2025.
Profissões sob risco
A tendinite não escolhe uma única profissão, mas algumas atividades elevam significativamente o risco. Profissões que exigem movimentos repetitivos ou força excessiva estão no topo da lista. A Sociedade Brasileira de Reumatologia destaca que ambientes sem ergonomia adequada amplificam o problema.
Professores, que passam horas escrevendo em lousas, frequentemente relatam dores nos ombros e punhos. Faxineiros, com esforços intensos em tarefas como esfregar pisos, também enfrentam lesões. Cozinheiros, que manipulam utensílios pesados ou cortam alimentos por longos períodos, não escapam do risco.
Trabalhadores de escritório, especialmente os que digitam ou usam o mouse por horas, sofrem com tensões nos punhos e mãos. Essas atividades, aparentemente inofensivas, geram microlesões nos tendões ao longo do tempo.
- Atividades de risco incluem escrita manual prolongada (professores, secretários) e digitação contínua (programadores, assistentes administrativos).
O INSS registra um aumento nos pedidos de benefícios relacionados a essas profissões, com a tendinite liderando as causas de afastamento.
Benefícios disponíveis
Trabalhadores diagnosticados com tendinite podem recorrer a três benefícios previdenciários, dependendo da gravidade da lesão. O INSS avalia cada caso com base na incapacidade gerada, que pode ser temporária ou permanente. A Reforma da Previdência, implementada em 2019, trouxe mudanças nos nomes e regras, mas os direitos permanecem acessíveis.
O auxílio-doença, agora chamado de benefício por incapacidade temporária, é concedido a quem fica totalmente incapaz de trabalhar por um período. A tendinite severa, que impede o uso de mãos ou braços, pode justificar esse amparo.
Já a aposentadoria por incapacidade permanente, antiga aposentadoria por invalidez, é reservada para casos em que a lesão impede qualquer atividade laboral de forma definitiva. Essa modalidade exige comprovação rigorosa, geralmente com exames médicos detalhados.
O auxílio-acidente, por sua vez, funciona como uma indenização para quem sofre redução parcial e permanente na capacidade de trabalho. Um digitador que perde parte da mobilidade nas mãos, por exemplo, pode se qualificar.
Nem todos os casos de tendinite garantem benefícios automaticamente. O INSS exige que o trabalhador seja segurado, ou seja, esteja contribuindo para a previdência social. Além disso, a comprovação da relação entre a lesão e o trabalho é crucial para dispensar o período de carência.
A carência, que normalmente exige 12 meses de contribuições, não se aplica quando a tendinite é reconhecida como doença ocupacional. Nesses casos, a origem laboral da lesão isenta o trabalhador dessa exigência.
Quando a tendinite não está ligada ao trabalho, como em casos de causas genéticas ou outros fatores, os 12 meses de contribuição voltam a ser obrigatórios. A documentação médica, incluindo laudos e exames, desempenha um papel central na avaliação.
- Documentos essenciais:
- RG, CPF e comprovante de residência.
- Carteira de trabalho ou comprovantes de contribuição.
- Laudos médicos com diagnóstico de tendinite.
- Exames que detalhem a gravidade da lesão.
A perícia médica do INSS é um passo obrigatório para a maioria dos benefícios, exceto em algumas situações de auxílio-acidente.
Documentação necessária
A aprovação de benefícios depende de uma documentação completa e bem organizada. O INSS exige provas claras da condição de saúde e da relação com o trabalho. A falta de um único documento pode atrasar ou até impedir a concessão.
Documentos pessoais, como RG, CPF e comprovante de residência, são o ponto de partida. A carteira de trabalho, que registra os vínculos empregatícios, ajuda a comprovar o tempo de contribuição. Para autônomos, carnês de pagamento ao INSS substituem essa função.
A documentação médica é o coração do processo. Atestados, receituários e resultados de exames devem detalhar o diagnóstico, a gravidade e a evolução da tendinite. A Classificação Internacional de Doenças (CID) deve constar nos relatórios, geralmente sob o código M65 para tendinite.
- Itens médicos indispensáveis:
- Laudo de especialista, como reumatologista ou ortopedista.
- Exames de imagem, como ultrassom ou ressonância magnética.
- Relatórios que descrevam limitações funcionais.
Organizar esses documentos antes da perícia aumenta as chances de aprovação.
Processo de solicitação
O pedido de benefícios pode ser iniciado pelo portal Meu INSS, disponível na web ou aplicativo. O sistema permite o envio de documentos digitalizados e o agendamento de perícias, quando necessário. A solicitação online trouxe agilidade, mas a perícia presencial ainda é exigida na maioria dos casos.
Após o cadastro do pedido, o INSS notifica o trabalhador sobre a data e o local da avaliação médica. O perito analisa a documentação e examina o segurado para determinar a incapacidade. Casos de tendinite exigem atenção especial, pois os sintomas nem sempre são visíveis durante a consulta.
Se o benefício for negado, o trabalhador pode recorrer administrativamente ou buscar a via judicial. Advogados previdenciários são frequentemente procurados para orientar nesses processos, especialmente em casos de aposentadoria por incapacidade permanente.
Fatores de risco no trabalho
A tendinite está diretamente ligada às condições de trabalho. Ambientes sem ergonomia, como cadeiras inadequadas ou mesas mal ajustadas, contribuem para o problema. A falta de pausas durante o expediente também sobrecarrega os tendões.
Movimentos repetitivos, como digitar ou levantar objetos pesados, são os principais vilões. Posturas inadequadas, como manter os ombros elevados ou os punhos flexionados por longos períodos, agravam o risco. Até mesmo vibrações de equipamentos, comuns em fábricas, podem desencadear lesões.
Empresas que investem em programas de prevenção, como ginástica laboral e ajustes ergonômicos, conseguem reduzir os casos. No entanto, muitos trabalhadores ainda enfrentam condições precárias, especialmente em setores informais.
- Medidas preventivas incluem ajuste de móveis e equipamentos para melhor postura; pausas regulares para descanso dos músculos; e a conscientização sobre esses fatores.
Impacto nas profissões
A tendinite afeta diretamente a produtividade de diversas categorias profissionais. Para um cozinheiro, a dor nos punhos pode limitar a capacidade de cortar alimentos com precisão. Um professor com lesões nos ombros enfrenta dificuldades para escrever ou apontar na lousa.
Trabalhadores de escritório, que dependem de computadores, relatam queda no desempenho devido à dor e à fadiga. Em setores como a construção civil, onde a força física é essencial, a tendinite pode tornar algumas tarefas impossíveis.
O INSS registra que profissões manuais, como faxineiros e operários, estão entre as mais impactadas. A repetição de movimentos, combinada com a falta de equipamentos adequados, cria um ciclo de lesões.
Perícia médica no INSS
A perícia é um dos momentos mais temidos pelos segurados. O médico do INSS avalia a gravidade da tendinite com base nos documentos e no exame físico. No entanto, a natureza da lesão, que nem sempre apresenta sinais visíveis, pode complicar a avaliação.
Laudos detalhados, assinados por especialistas, ajudam a reforçar o diagnóstico. Exames como ultrassom ou ressonância magnética mostram inflamações ou rupturas nos tendões, oferecendo evidências concretas. Relatórios que descrevam limitações, como dificuldade para segurar objetos, também são valiosos.
O trabalhador deve comparecer à perícia com todos os documentos organizados. A clareza na descrição dos sintomas, sem exageros, contribui para uma avaliação justa.
- Dicas para a perícia:
- Levar todos os exames e laudos atualizados.
- Explicar como a tendinite afeta o trabalho.
- Apresentar documentos em ordem cronológica.
- Evitar omitir informações relevantes.
A preparação adequada pode fazer a diferença na concessão do benefício.
Tendinite como doença ocupacional
A classificação da tendinite como doença ocupacional é um ponto-chave para os trabalhadores. Essa categoria isenta o segurado do período de carência e facilita o acesso aos benefícios. Para que a lesão seja reconhecida como ocupacional, é preciso comprovar sua relação com as atividades laborais.
Laudos médicos que detalhem as condições de trabalho, como a frequência de movimentos repetitivos, são fundamentais. Relatórios de segurança do trabalho, quando disponíveis, também reforçam a ligação entre a lesão e o ambiente profissional.
Empresas têm a obrigação de emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) em casos de doenças ocupacionais. No entanto, muitos empregadores negligenciam esse passo, o que força o trabalhador a buscar provas por conta própria.
Alternativas para trabalhadores
Nem todos os casos de tendinite resultam em benefícios previdenciários. Trabalhadores com lesões leves, que não geram incapacidade, podem buscar outras soluções. Ajustes no ambiente de trabalho, como teclados ergonômicos ou cadeiras ajustáveis, ajudam a aliviar os sintomas.
Fisioterapia é outra opção amplamente recomendada. Sessões regulares podem fortalecer os tendões e reduzir a inflamação. Em alguns casos, mudanças na rotina de trabalho, como a redução de horas ou a troca de funções, evitam o agravamento da lesão.
Quando a tendinite impede o trabalho, mas não justifica um benefício, o trabalhador pode negociar com o empregador ou buscar programas de reabilitação profissional oferecidos pelo INSS.
- Opções para alívio incluem fisioterapia para fortalecimento muscular e uso de órteses, como munhequeiras.
Dados e números
A tendinite é uma das principais causas de afastamento no Brasil, segundo o INSS. Em 2024, milhares de trabalhadores solicitaram benefícios por doenças osteomusculares, com a tendinite entre as líderes. A Organização Mundial da Saúde reforça que a prevalência global da doença é significativa, afetando cerca de 1% da população.
Setores como educação, serviços domésticos e tecnologia da informação registram altas taxas de casos. A falta de políticas preventivas em muitas empresas contribui para o aumento das ocorrências. Dados do Ministério do Trabalho mostram que doenças ocupacionais custam bilhões anualmente ao sistema previdenciário.
- Números relevantes:
- 1 em cada 100 pessoas sofre de tendinite (OMS).
- Milhares de afastamentos anuais no Brasil por LER/DORT.
- Setores manuais e de escritório lideram os casos.