segunda-feira, 30 de junho de 2025

Morre Jussara Nery, pioneira no trabalho em altura no país

Por Paula Barcellos/Jornalista da Revista Proteção

Faleceu, em 29 de setembro, vítima de câncer, a enfermeira do Trabalho, montanhista e consultora especialista em equipamentos para trabalho em altura, Jussara Nery. Ela foi uma das grandes responsáveis pela transferência das técnicas de alpinismo em montanha para as técnicas de trabalho em altura em indústrias nos anos 90. “Conheci a Jussara fazendo caminhada em montanha e em uma palestra que eu ministrei sobre trekking há mais de 30 anos e fizemos amizade. Na época, ela começou a trabalhar em uma empresa de equipamento de montanha, que representava uma marca francesa no Brasil, e que começou a trazer as primeiras ferramentas de proteção para trabalho em altura porque na Europa estava começando um movimento de transferência das técnicas de alpinismo para técnicas de trabalho em altura. Ela me chamou para poder ajudá-la a traduzir os manuais e testar os equipamentos. Foi década de 90, foi aí que começou tudo praticamente”, relembra o instrutor Marcello Cyrillo Vazzoler, ex-guia de montanha, técnico em Segurança do Trabalho e diretor da Vertical Pro Treinamentos e Serviços em Altura.

CONTRIBUIÇÃO AO SETOR

Segundo ele, nesta época, não existia no Brasil nem NR (Norma Regulamentadora) nem NBR (Norma Brasileira) para trabalho em altura, sendo que o trabalho foi disseminar a técnica por meio de palestras e de apresentações práticas com equipamentos de alpinismo adaptados para a área profissional de trabalho em altura. “Quando começou o movimento das normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho nesta área ela estava diretamente envolvida com isso porque ela já conhecia a técnica, então era fácil ela adaptar isso para o ambiente industrial. E ela começou a estudar as normas estrangeiras e começou a passar as informações para as normas nacionais”, diz o diretor.

Assim, Jussara teve ativa participação na NR 35 e contribuiu em normas técnicas da ABNT, todas pertinentes a trabalho em altura, e também algumas ligadas a espaços confinados. “Então, as diretrizes para fazer um cinto de forma adequada, um trava-queda, um talabarte, elaborar procedimento de trabalho, a importância dela foi total. E a Jussara sempre teve uma capacidade muito grande de agregar pessoas no entorno dela, conhecimentos variados para poder criar um amálgama de informações condensadas para elaboração de normas. Ela sempre transitou muito bem em todas as empresas e sempre foi muito bem recebida tanto pelo carisma quanto pelo conhecimento. Era uma pessoa que não guardava informação, todo conhecimento que ela tinha pôs à disposição e a gente foi aprendendo junto nesta caminhada”, afirma Vazzoler. Também atuou junto à Animaseg (Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho) no que diz respeito a testes em cintos de segurança, em talabartes, em trava-quedas e cordas.

ACESSO POR CORDA

O diretor destaca a capacidade de coordenação dela que levou inclusive à produção do pioneiro Manual de Acesso por Corda, que hoje é o Anexo 1 da NR 35. “Eu fui um dos autores, junto com mais dois amigos e ela foi autora e também a coordenadora desse livro. Mas sem ela acho que ele não sairia, porque ela teve uma capacidade de coordenação muito grande. O que que me marcou foi a capacidade de coordenação e disciplina que ela teve para elaborar os diversos trabalhos, normas, comitês e por aí vai”, relembra.

Para Vazzoler, outra marca que ela deixa foi o rompimento de barreiras nesta transferência de técnicas e tecnologias do alpinismo para a indústria. “Eu acho que o mais marcante que eu posso dizer do que eu vivi com a Jussara foi o início da transferência dessa técnica de alpinismo de montanha para alpinismo industrial. A transferência da tecnologia foi o mais difícil porque existia muita resistência, inclusive dos fabricantes antigos e de equipamentos mais rudimentares que queriam ainda deter esse mercado, mas a gente bateu de frente e conseguimos vencer essa barreira. Hoje se a gente vai numa feira de segurança e vê os estandes que vendem cintos de segurança, trava-quedas todo esse material de altíssimo nível, se deve ao fato da gente lá atrás ter começado a disseminar essa ideia quando não existia nada. Então eu acho que foi uma vitória bastante significativa que eu pude conviver com a Jussara”, diz o diretor.

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