quarta-feira, 25 de junho de 2025

Reportagem Especial – SST em Eventos: Acelera aê! – Ed. 391

Ritmo intenso das montagens e desmontagens intensifica chance de acidentes no setor

Reportagem de Marla Cardoso

Entre os anos de 2009 e 2017, o técnico de Segurança do Trabalho Marcos Santi Tonetti, atuando como consultor de SST na área de eventos, presenciou situações que renderiam um livro. Não com histórias inspiradoras, mas com exemplos que claramente colocam a segurança dos trabalhadores em risco. Em uma dessas oportunidades, enquanto acompanhava uma montagem, ele se deparou com um homem que iniciava sua jornada como ajudante geral calçando chinelos, vestindo bermuda e sem camiseta. Obviamente, sem nenhum equipamento de proteção. Surpreso com a cena, Tonetti o questionou sobre a vestimenta. “A resposta foi inacreditável. Ele disse que estava na praia e passou um carro de som perguntando quem gostaria de trabalhar na montagem do evento pela diária de R$ 100, por isso ele estava ali”, recorda.

Embora o episódio tenha sido extremo e não deva ser corriqueiro, ele revela um dos problemas que impactam a Segurança do Trabalho neste setor: a informalidade. Além dela, a terceirização é uma realidade. Mas não é só isso. Trabalhadores que montam e desmontam estruturas para shows, festivais, feiras, congressos, entre outros, lidam constantemente com os riscos do trabalho em altura e da eletricidade, entre muitos outros. Perigos que são potencializados pela pressa com que essas estruturas precisam ser erguidas e depois desarmadas. Outro agravante é a ausência de sistemas nesses espaços que comportem a utilização de Equipamentos de Proteção Individual ou Coletiva. A saída, nesses casos, é improvisar. Tudo isso, na grande maioria das vezes, sem o acompanhamento de profissionais de SST. Um cenário que com urgência precisa mudar.

O setor de eventos no Brasil é grandioso. Embora durante o período da pandemia a área tenha sido fortemente impactada, os números demonstram que tanto a quantidade de empresas como de trabalhadores nessa atividade é expressiva. Conforme o Anuário 2024 da Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Eventos), que traz um radar econômico do segmento, ele chega a envolver quase 540 mil pessoas no país somando empregadores, empregados e MEIs (Microempreendedor Individual). Em 2022, o segmento registrou 62.176 empresas em atividade, incluindo as de organização de eventos, artísticas, criativas e de espetáculos, as ligadas ao patrimônio cultural e ambiental, atividades de recreação e lazer e produção e promoção de eventos esportivos. O número de empregos formais no ano chegou a 123.309. Já o número de MEIs (Microempreendedor Individual) cadastradas, em 2023, foi de 353.614.

Economicamente, os resultados também são bilionários. Em 2023, o setor movimentou R$ 120,1 bilhões em consumo. Isso, se levarmos em consideração apenas o core business (núcleo de negócio). Considerando o hub do setor, todos os números são muito maiores. Outro dado, porém, chama mais a atenção. De acordo com o relatório, elaborado com dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho, 70,8% das empresas do segmento não têm nenhum funcionário com carteira assinada, o que comprova a tradição de terceirização ou informalidade, conhecidos fatores que contribuem para a precarização das condições de Segurança do Trabalho.

ESTRUTURA
Com trabalhadores formais ou informais, a questão é que o show não pode parar, ou pelo menos não tem parado. Tudo isso para atender uma média anual, segundo a Abrape, de 590 mil eventos. São shows, apresentações, feiras, congressos, festas, festivais e muitos outros, que exigem montagens, muitas vezes, iniciadas do zero, como palcos, stands, tendas, camarotes e áreas de convivência, além das desmontagens. Por trás de toda essa mágica estão os trabalhadores, responsáveis por erguer e desfazer essas estruturas. Acontece que do ponto de vista da Saúde e Segurança do Trabalho eles estão, na maioria das vezes, desamparados.


Confira a reportagem completa na edição de julho da Revista Proteção.


DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

Artigos relacionados