Por Paula Barcellos/Jornalista da Revista Proteção
Em busca de uma vida melhor, Mateus, um rapaz humilde de uma cidade pequena, e outros jovens aceitam trabalhar em um ferro velho em São Paulo. Porém, logo todos percebem que foram enganados e caíram em uma rede de trabalho escravo. Olhando para esse cenário, Mateus decide se unir ao seu captor e se tornar seu braço direito, mesmo sofrendo com grandes conflitos morais. Esta é a sinopse do filme brasileiro “7 Prisioneiros”, do diretor Alexandre Moratto, que estreou no catálogo da Netflix em novembro passado.
Segundo especialistas da área de SST, o filme de destaca, pois traz à tona uma temática muito presente no país. “Para Aristóteles, ‘A arte imita a vida’ . O filme é a visão do diretor e equipe acerca de uma chaga social crudelíssima: o trabalho análogo à escravidão. A realidade é talvez ainda mais sangrenta, mais ampliada, mais corrosiva, segundo relatos e elementos coletados nas inspeções pelos colegas auditores do trabalho. Muitas vezes a caracterização do trabalho análogo é delimitada também por temáticas relacionadas à segurança e saúde, como o contato com pesticidas sistêmicos e exposição a máquinas inseguras, mastigadoras de membros humanos. Aliás, uma violência que já levou a fiscalização a encontrar corpos de trabalhadores em locais ermos, corpos ainda vivos e desgastados pelo trabalho insano igualmente jogados nas planícies urbanas das grandes cidades”, destaca o auditor-fiscal do Trabalho e presidente do Instituto Trabalho Digno, Luiz Alfredo Scienza.
O auditor ressalta a importância de a arte em geral conscientizar sobre os problemas da sociedade. “Nossas injustiças precisam ser conhecidas, para que isso gere debate, reflexão e soluções viáveis. Esse é o histórico papel da arte, destravar o silêncio. O cinema brasileiro já nos deu mostras interessantes de formatar uma janela para um mundo quase invisível, como ‘Cidade de Deus’, não uma obra panfletária, mas vertente de humanismo e solidariedade. O trabalho análogo à escravidão é uma excrescência que poderia gerar outras reflexões nas artes em geral, um sinal que ainda nos resta a capacidade de nos indignar”.
Scienza espera que a obra possa atingir não só a sociedade como instâncias governamentais. “Espero, sinceramente, que seja capaz de sensibilizar aqueles que hoje definem as políticas públicas para o trabalho análogo à escravidão, em um retrocesso visível. A própria negação da sua existência ou a minimização, por burla real, não ajuda esses cidadãos e também a busca de soluções sustentáveis”, declara.