domingo, 15 de junho de 2025

Acidente ampliado em Beirute indica desrespeito às recomendações de segurança para o nitrato de amônio

Por Martina Wartchow/Jornalista da Revista Proteção

Embora as causas oficiais da tragédia na região portuária de Beirute em 4 de agosto não tinham sido divulgadas até o fechamento desta edição, ela já é caracterizada como um acidente químico ampliado envolvendo 2.750 toneladas de nitrato de amônio estocadas há seis anos em um armazém. Houve uma primeira explosão forte, seguida por um incêndio e algumas detonações, e, então, uma segunda explosão, que gerou uma grande nuvem de fumaça e arrasou o porto e os edifícios vizinhos, resultando na morte de 177 pessoas e 6.500 feridos.

Crédito: Reprodução

Conforme o engenheiro químico Fernando Vieira Sobrinho, tecnologista da Fundacentro, se trata de um acidente ampliado de acordo com a Convenção nº 174 da OIT, que versa sobre a prevenção de acidentes industriais maiores que envolvam substâncias perigosas. A expressão acidente maior designa todo evento súbito, como emissão incêndio ou explosão de grande magnitude, no curso de uma atividade em instalação sujeita a riscos de acidentes maiores, envolvendo uma ou mais substâncias perigosas e que implica grave perigo, imediato ou ao longo do tempo, para os trabalhadores, a população ou o meio ambiente;

PREVENÇÃO

“Não temos como determinar as possíveis causas, mas, para a explosão do nitrato de amônio, é necessária, além do confinamento, pelo menos mais uma das duas seguintes condições simultaneamente: aquecimento por incêndio acima de 300⁰C e contaminação”, explica. Para que a tragédia fosse evitada, cita as recomendações básicas de segurança para o produto: rígido controle para evitar contaminação por substâncias incompatíveis, com a disponibilização e observância de fichas de informações sobre segurança; condições de armazenagem e acondicionamento em situação de confinamento/empacotamento norteadas por regulamentação e análise de riscos das condições do local e a eventual vulnerabilidade do entorno; e capacitação e informação de todos os envolvidos no ciclo de produção, transporte, utilização e descarte de embalagens da substância. “Conhecimentos adequados sobre a química do produto e seu potencial de danos fazem parte dessas recomendações”, ressalta.

Fernando ainda destaca que, no Brasil, a elaboração e a observância das FISPQs (Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos), feitas com base no GHS (Sistema Globalmente Harmonizado para Rotulagem de Substâncias Químicas) e na NBR ABNT 14725, são medidas para promover a SST. Observa, também, que normas do Exército Brasileiro determinam o controle do produto e a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) regula a questão da segurança no transporte terrestre do nitrato de amônio.

REGISTROS ANTERIORES

AnoLocalAcidente
1921AlemanhaExplosões na fábrica da Basf em Oppau envolvendo 4,5 mil toneladas de sulfato de amônio e nitrato de amônio deixaram 561 mortos e 2 mil feridos.
1947Estados UnidosExplosão de 2,3 mil toneladas de nitrato de amônio a bordo de um navio francês no porto no Texas deixou 581 mortos e mais de 5 mil feridos.
1947FrançaExplosão do cargueiro norueguês Ocean Liberdade com 3 mil toneladas de nitrato de amônio no porto de Brest matou 30 pessoas e feriu milhares.
1997BrasilExplosão em caminhão com nitrato de amônio matou 11 pessoas em Sapucaia/PA.
1998ChinaNa província de Shaanxi, 24 trabalhadores morreram e 60 ficaram feridos na explosão em uma fábrica de fertilizantes.
2001FrançaExplosão do estoque de nitrato de amônio da fábrica AZF, em Tolouse, provocou a morte de 31 pessoas e deixou 2,5 mil feridos.
2004Coreia do NorteColisão entre um trem que transportava petróleo e vagões carregados de nitrato de amônio causou uma série de explosões e deixou 161 mortos e 1,3 mil feridos.
2013Estados UnidosExplosão de nitrato de amônio na West Fertilizer Company, no Texas, matou 15 pessoas e feriu 160.
2013BrasilExplosão em um galpão de fertilizantes da empresa Global Logística em São Francisco do Sul/SC causou a remoção de pessoas em quatro bairros por causa da fumaça tóxica.
2015ChinaExplosões envolvendo 800 toneladas de nitrato de amônio em um armazém de uma empresa de logística de produtos químicos no porto de Tiajin deixaram 173 mortos e centenas de feridos.
2017BrasilIncêndio começou após explosão em uma correia transportadora que alimentava o armazém da unidade de nitrato de amônio da Vale Fertilizantes em Cubatão/SP. A estrutura foi evacuada e nenhum funcionário ficou ferido.

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