domingo, 22 de junho de 2025

MARGARIDA MARIA SILVEIRA BARRETO – Problemas na organização e gestão das tarefas podem desencadear práticas de assédio moral nas empresas

Margarida Maria Silveira Barreto é uma das especialistas brasileiras com estudos pioneiros sobre assédio moral no trabalho e o efeito das longas jornadas na saúde dos trabalhadores. O tema ganhou visibilidade nos últimos anos e ela tem sido incansável debatendo sobre o assunto em diversas regiões do país. Seu livro Violência, saúde e trabalho – uma jornada de humilhações, também é ferramenta importante para conscientização, além do site `Assédio moral no trabalho. Chega de humilhação’ em que é uma das responsáveis.

Doutora em Psicologia Social, Margarida perdeu sua única filha há cerca de 30 anos e foi então que a dor desta perda a fez rever suas escolhas de vida. Especialista em ginecologia e cirurgia, decidiu voltar-se para a Homeopatia, depois especializou-se em Higiene Industrial e em seguida em Medicina do Trabalho onde atua até hoje. No atendimento a trabalhadores do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo, ela se deparou com o sofrimento ligado ao trabalho. “Eram histórias inacreditáveis que iam desde cobranças excessivas, autoritarismo, rebaixamentos, constrangimentos, discriminações e humilhações. Já cursando mestrado em Psicologia Social, ela tentava encontrar respostas para suas angústias, até que um dia ouviu de um trabalhador em lágrimas: “doutora, eu vivo uma jornada de humilhações”. Ela relembra que esse trabalhador a convenceu, sem que ele soubesse, sobre o que ela deveria pesquisar: sobre essa `jornada de humilhações’ que eles sofriam”. Nesta entrevista, Margarida explica que, muitas vezes, o assédio moral no trabalho pode ter estreita ligação com o vertiginoso crescimento das doenças mentais que atingem todas as categorias de trabalhadores no Brasil.

Os casos de assédio estão aumentando ou hoje há maior visibilidade sobre o assunto?

Te diria que hoje, as humilhações repetitivas enquanto violência psicológica, são mais visibilizadas e compreendidas pelos trabalhadores. Em especial, quando você tem os enxugamentos, os programas de demissão voluntária, as inovações tecnológicas e reestruturações e as demissões por adoecimentos ou morte por suicídio após demissões. Apesar de todo o trabalhador conhecer, discutir e saber que ao vender sua força de trabalho não está comercializando sua dignidade, sua honra, sua ética, sua moral e sequer dando direito aos seus patrões e chefes de lhe humilharem e rebaixarem, na prática, os trabalhadores se sujeitam por necessidade. Se sujeitam ao ritmo intenso, às jornadas prolongadas, às imposições de horários e múltiplas tarefas, por medo de perder o emprego. Mesmo quando controlados em seus comportamentos e necessidades fisiológicas, suportam. Há um controle dos corpos, que são administrados, disciplinados e confrontados como se fossem todos, potencialmente, insubordinados. Essa dimensão é bastante sofrida, pois quando adoecem ou são demitidos, ainda se sentem culpados.

FOTO: Gustavo Morita

Entrevista à jornalista Daniela Bossle

Confira a entrevista completa na edição de agosto da Revista Proteção.

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