quinta-feira, 19 de junho de 2025

MÁRIO PARREIRAS DE FARIA – Auditor que atuou na investigação de outros rompimentos de barragens diz que é preciso adotar o princípio da precaução

Com praticamente toda sua vida profissional acompanhando fiscalizações e acidentes no setor mineral, o auditor fiscal, médico do Trabalho e mestre em Saúde Pública pela UFMG, Mário Parreiras de Faria, 63 anos, natural de Belo Horizonte, fala novamente à Proteção após a tragédia ocorrida na Mina Córrego do Feijão, pertencente à Vale, em Brumadinho/MG. Auditor fiscal há 35 anos, ele atua com mineração desde quando entrou no Ministério do Trabalho, acompanhando diversos acidentes ocorridos em minerações, inclusive em barragens de rejeitos. Entre as investigações realizadas houve as que provocaram a revisão da NR 22, em 1999, quando ele participou do grupo que redigiu a nova norma, coordenou as discussões tripartites e depois da aprovação da nova NR 22 foi nomeado coordenador da Comissão Nacional Permanente do Setor Mineral, atribuição que possui até hoje. Parreiras integra uma equipe de mais nove auditores fiscais da SRT/MG para trabalhar na investigação do acidente, assim como o fez também na ocasião do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, há três anos. Nesta entrevista, ele reforça aspectos que já tinha apontado em sua entrevista anterior: o baixo número de fiscais dos órgãos do Governo, que não consegue dar conta de tantos problemas, a necessidade de rever conceitos de construção e fatores de segurança de barragens, a modificação urgente da legislação proibindo a construção de barragens à montante no Brasil [logo após a entrevista a Agência Nacional de Mineração publicou resolução proibindo estruturas com método à montante no País]. “Não se pode centrar as decisões só no custo, fazer o que é mais barato. Temos que fazer o que é mais seguro. Tenho esperança de ver esta mudança”, disse Faria.

Dada a sua longa trajetória à frente de fiscalizações e investigações de acidentes no setor de mineração, não há como não iniciar lhe perguntando sobre a ruptura da Barragem do Córrego do Feijão em Brumadinho. Diferente do caso de Mariana, neste, o impacto maior foi sobre os trabalhadores. Foi o maior acidente de trabalho da história do País?

Em termos de mortes com certeza, se você pensar que entre trabalhadores próprios e terceirizados vamos passar de 300. O último grande acidente de trabalho que teve tantas mortes foi na década de 1970, também em Minas Gerais, com o desabamento da laje de uma construção chamada de galpão da Gameleira, no bairro de mesmo nome em Belo Horizonte, onde morreram 69 trabalhadores.  Em Brumadinho, a empresa principal tinha mais de 400 empregados, mas claro que trabalhavam em turno. Temos ainda várias terceirizadas que prestavam serviço para a Vale: empresas de engenharia, de alimentação, de manutenção de máquinas, eram muitas empresas terceirizadas. Como já temos mais de 160 corpos identificados e faltam mais de 150, vai passar de 300. Na comunidade não sei exatamente quantos morreram, mas mesmo o pessoal da pousada, a maioria era trabalhador, além dos hóspedes. É uma tragédia trabalhista, humanitária e ambiental muito grande.

FOTO: Mário César Prado

Entrevista à jornalista Daniela Bossle

Confira a entrevista completa na edição de março da Revista Proteção.

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