
A exposição do trabalhador ao bagaço de cana nas usinas de açucar e álcool é considerada insalubre? Quais são os efeitos presentes nesta atividade?
Segundo o perito judicial Luiz Paumgartten, na edição 248 – Agosto/2012 da Revista Proteção, o efeito insalubre causado pela exposição a grandes quantidades de poeira de bagaço de cana nas usinas de beneficiamento é uma doença ocupacional denominada Bagaçose, que se desenvolve nos pulmões da pessoa exposta a partir de grande quantidade de esporos de fungos, de vários tipos diferentes, presentes nestas fibras. O principal agente aceito como causador da bagaçose é o fungo Thermophilico Acthomyceto. Trata-se de uma pneumonite de hipersensibilidade provocada por uma reação alérgica aos fungos. Por se tratar de uma reação alérgica, esta doença não se desenvolve em qualquer trabalhador exposto, pois depende da sensibilização do indivíduo ao alérgeno (agente causador da alergia).
Em muitos casos, a sensibilização só ocorre depois de muito tempo de exposição repetida. Os expostos sensibilizados se sentem mal (tosse, dificuldade de respirar, febre, entre outros sintomas) algumas horas após a exposição, melhorando somente com a interrupção da exposição ao alérgeno. Normalmente, observa-se uma melhoria de sintomas nos fins de semana (que é quando o indivíduo fica afastado das atividades). As inflamações (sensibilizações) repetidas por muitos anos podem levar à lesões irreversíveis nos pulmões com redução da capacidade, chegando até a morte. Em vista disto, todos os trabalhadores expostos ao agente devem utilizar máscaras-filtro para fibras respiráveis, pois os fungos ficam alojados nas fibras respiráveis. Os indivíduos que já apresentam algum nível de sensibilização aos alérgenos devem ser retirados de qualquer possibilidade de exposição.
Sobre adicional de insalubridade para este agente, a NR 15, em seu Anexo 13 (Operações Diversas) caracteriza como insalubre de grau médio as “Operações com bagaço de cana nas fases de grande exposição à poeira”. No entanto, como sempre digo, o prevencionista não deve nunca pensar que a saúde pode ser “comprada” com adicionais de insalubridade, cabendo a nós estar sempre estudando e prevenindo as doenças ocupacionais.
Foto: Marcello Casal Jr/ABr