
Agravos na esteira
Segunda Região mais industrializada registra aumento de ocorrências no setor alimentício
Em virtude de sua colonização europeia e das extensas áreas de pastagens naturais, a Região Sul desenvolveu-se economicamente por meio da agropecuária e também da área industrial. Além da intensa produção de soja, trigo, arroz, algodão, feijão, uva, café, erva-mate, entre outros produtos provenientes da pecuária, os três estados sulinos, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, contam com um contingente bastante proeminente de indústrias da área alimentícia. “Esse segmento contribui para a sustentação da economia da Região, sendo também responsável por empregar uma grande parcela de trabalhadores”, constata Iara Hudson, auditora fiscal da SRTE/RS.
Em consequência de seu alto desenvolvimento industrial, o Sul ocupa o posto de segunda Região mais industrializada do país, perdendo apenas para a Região Sudeste. A mesma colocação acontece quanto ao número de acidentes do trabalho. Em 2008 foram registrados 170.990 agravos e 494 óbitos no Sul do país. A Região obteve ainda o maior índice brasileiro de acidentes de trabalho por trabalhador. Para cada grupo de 100 mil trabalhadores, ocorreram 2.513 acidentes, número que superou a média da Região Sudeste (2.017).
Segundo Iara Hudson, grande parcela desses acidentes de trabalho são originados pela indústria alimentícia. “Há muitos registros na indústria da construção e da transformação (metalúrgicas), mas, o grande percentual de ocorrências está atrelado ao trabalho em frigoríficos. Só que é importante ter em mente que esse resultado envolve o trabalho iniciado na granja e concluído no transporte da produção até seu destino final”, salienta a auditora fiscal.
Ainda segundo ela, um terço dos trabalhadores que atua nesse segmento no Rio Grande do Sul está afastado de suas atividades por problemas de saúde. O adoecimento mental, provocado pelo esgotamento físico, e a LER/DORT, em decorrência da repetição constante dos movimentos, são algumas das causas mais frequentes para o afastamento dos colaboradores de suas atividades profissionais. “Observamos que houve o aumento de registros no setor alimentício no último ano, fato que nos levou a ampliar a fiscalização de SST nos frigoríficos do estado”, ressalta Iara.
Além dos afastamentos na indústria alimentícia, o Rio Grande do Sul convive com um número representativo de agravos no segmento automobilístico, petroquímico, calçadista e vinícola, sendo essas atividades de grande relevância para a economia do Estado. Ao todo, ocorreram 62.931 acidentes de trabalho no Rio Grande do Sul em 2008, sendo o que mais acidentou nesse período. Numa análise dos acidentes de trabalho na Região Sul nos últimos 19 anos, os gaúchos lideram a lista. Ocorrem em média 42.432 agravos por ano.
Em compensação, é o Estado que menos gera acidentes fatais. A média dos últimos 19 anos indica que de cada 10 mil acidentes, 58 trabalhadores chegam a óbito, enquanto que entre os colaboradores catarinenses e paranaenses esse número sobe para 62 e 88, respectivamente. O Rio Grande do Sul também obtêm o menor índice de óbitos por trabalhador. São registradas 14 mortes a cada 100 mil trabalhadores. No último ano, o Estado contabilizou 141 mortes relacionadas ao ambiente de trabalho, número menor do que das demais unidades federativas da Região.
Santa Catarina, por sua vez, apresentou o maior índice de mortalidade no trabalho em 2008. Apesar de ter tido 152 acidentes fatais, resultado menor do que do Paraná (201), o Estado conta com o menor percentual de trabalhadores em atividade no Sul do país (1.177.604), o que fez com que o índice de óbitos por trabalhador fosse o mais elevado da Região. De 100 mil trabalhadores catarinenses 9 morreram no exercício de sua profissão em 2008.
Conhecido por suas belas cidades litorâneas, Santa Catarina também possui uma produção industrial bastante diversificada. Entre as presenças mais expressivas para o desenvolvimento econômico do Estado encontram-se o setor agroindustrial, metal-mecânico, têxtil, mineral (carvão) e alimentício, sendo esse último representado pela industrialização de carnes de aves, bovinas e suínas. Além disso, é considerado um dos maiores produtores de papel e celulose do país.
No entanto, assim como no Rio Grande do Sul, a indústria alimentícia é responsável por grande parcela dos acidentes de trabalho registrados na região catarinense. “O setor sempre apresentou um número significativo de acidentes de trabalho, incluindo fatais. Só que com a entrada em vigor do NTEP, comprovamos que ele também adoece muitos trabalhadores. A nova sistemática previdenciária possibilitou uma melhor visibilidade da realidade do segmento em nosso Estado”, afirmou a auditora fiscal da SRTE/SC Christine Sodré Fortes. Com 51.002 agravos registrados em 2008, Santa Catarina lidera a lista de acidentes e doenças do trabalho por trabalhador na Região Sul nos últimos 19 anos. A cada 100 mil trabalhadores, 2.661 se acidentam no ambiente de trabalho.
Boas Práticas
Já no Paraná, em que há 2.503.927 trabalhadores exercendo suas atividades profissionais, ocorreram 57.057 agravos em 2008, fato que tornou o Estado do Sul que menos gerou acidentes por trabalhador nesse período. Para um grupo de 100 mil trabalhadores, aconteceram, em média, 2.279 acidentes de trabalho. Esse mesmo resultado pode ser observado na média de agravos por trabalhador nos últimos 19 anos. São 2.055 acidentes para cada 100 mil colaboradores.
Conforme Ênio Bezerra Soares, auditor fiscal da SRTE/PR, esse índice pode diminuir se houver uma maior participação dos segmentos econômicos que apresentam maiores riscos de doenças ocupacionais e acidentes no Estado, como, por exemplo, supermercados, instituições de ensino, frigoríficos, serviços de saúde, madeireiras, instituições financeiras, entre outras. “Implantamos um programa chamado Boas Práticas de Saúde e Segurança que tem como objetivo incentivar as empresas a reduzirem os agravos dentro do seu ambiente laboral. Desde o ano passado estamos percorrendo o estado para promover o projeto”, informa Ênio, que ainda destaca quais serão as ações prioritárias da fiscalização em 2010. “Iremos realizar ações de fiscalização mais extensivas nos frigoríficos, madeireiras, supermercados, na construção civil e no setor sucroalcooleiro, pois esses segmentos são líderes na ocorrência de agravos”, assinala.
Outro exemplo de boas práticas no Sul do país foi desenvolvido pela Baesa – Energética Barra Grande S/A, com sede em Florianópolis/SC, que recebeu a concessão para a construção da Usina Hidrelétrica Barra Grande. A obra, abrangendo os municípios fronteiriços de Anita Garibaldi, em Santa Catarina, e Pinhal da Serra, no Rio Grande do Sul implicou na desapropriação da área e construção de novas moradias para alojar as famílias. O Programa Comunidade Segura desenvolvido pela empresa foi considerado pelo Prêmio Proteção Brasil 2009 como o melhor Case da Região Sul.
Tabela 1 – Média de Acidentes de Trabalho ocorridos nos últimos 19 anos
Tabela Paraná – Acidentes de trabalho ocorridos nos últimos 19 anos
Tabela Rio Grande do Sul – Acidentes de trabalho ocorridos nos últimos 19 anos
Tabela Santa Catarina – Acidentes de trabalho ocorridos nos últimos 19 anos