Fonte: G1
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu uma decisão da Justiça Federal que impedia a exploração de amianto crisotila em Minaçu, no norte de Goiás. Diante da nova decisão, assinada pelo presidente do órgão, ministro Humberto Martins, a atividade voltou a ser autorizada. Cabe recurso.
A nova decisão foi publicada na sexta-feira (3). No documento, o ministro explica que a reavaliação é resultado de um pedido da Prefeitura de Minaçu, que argumentou que a atividade é essencial para a economia da cidade.

Procurado pelo G1, o procurador geral do município, Márcio André Luiz Ferreira, informou que “o pedido pleiteado é fundado na convicção do prefeito municipal Carlos Alberto Leréia, sobre a importância da empresa Sama para todos os munícipes, vez que a geração de renda e empregos diretos e indiretos, impactam diretamente na existência desta municipalidade”.
A Sama informou, por meio de nota, que paralisou as atividades no último dia 19 de agosto “em cumprimento à Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, notificada pelo Juízo da Comarca de Uruaçu-GO”. No entanto, após a nova decisão, retomou a extração no último sábado (4);
No documento, o ministro informa que a Prefeitura de Minaçu argumentou, no recurso, que a interrupção da exploração do amianto pode gerar “consequências sociais gravíssimas e irreparáveis, inviabilizando o meio de subsistência da comunidade”.
Também de acordo com a decisão, a administração municipal lembrou que houve uma interrupção temporária das atividades em 2019 e que ela “resultou na decretação de estado de calamidade” em Minaçu.
Ainda de acordo com o documento, a prefeitura da cidade, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, constatou que “não há identificação de ocorrência de pessoas doentes em decorrência da exploração minerária de crisotila” em Minaçu.
O ministro avaliou que o Judiciário, neste caso, não deveria interferir. De acordo com ele, o Judiciário “substituiu o Poder Executivo ao interferir na execução da política pública minerária”.

Ainda segundo o presidente do STJ, a decisão anterior, que suspendia a exploração de amianto na cidade, “provocará perda de arrecadação de impostos e da compensação financeira pela exploração de recursos minerais, culminando em prejuízos ao erário público que repercute negativamente na prestação eficiente de serviços públicos à comunidade local”.
Disputa judicial
A briga na Justiça pela autorização para explorar o amianto crisotila na região começou em 2017, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a prática no Brasil.
Desde então, a mineradora luta para manter a exploração uma atividade legal e o Ministério Público Federal (MPF) atua para suspender essa mineração.
Decisões de diversas instâncias já concordaram com os diferentes lados desta disputa, por vezes autorizando a exploração do minério e por outras determinando a paralisação das atividades da mineradora.
A decisão anterior à do STJ dos últimos dias foi publicada em agosto deste ano pela Justiça Federal. Ela determinava a suspensão imediata da exploração de amianto crisotila em Minaçu. Antes, em novembro de 2020, a Sama divulgou a retomada da atividade com base em uma lei estadual.
Essa lei teve a constitucionalidade questionada pela Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e o processo está tramitando no STF.
Ameaça à saúde
Desde 1995, um outro tipo de amianto, o anfibólio, também é proibido no Brasil, por ser considerado cancerígeno. Somente o tipo crisotila era permitido, desde que fossem seguidas determinadas normas de segurança – até a decisão do STF em 2017.
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), afirma que “todas as formas de amianto são cancerígenas” e que as demais variações do amianto são tóxicas, sendo sua periculosidade indefinida por falta de estudos científicos.
O principal tipo de câncer relacionado ao amianto é o mesotelioma, que acomete membranas que revestem órgãos como o pulmão. Segundo a Iarc, o diagnóstico da doença é difícil de ser feito por ser trata de uma doença rara, que pode demorar até 40 anos para se manifestar a partir da exposição ao amianto e que pode matar em cerca de um ano.
Entre 1980 a 2010, ocorreram 3,7 mil mortes por mesotelioma no Brasil, segundo estudo do médico sanitarista Francisco Pedra, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Ainda não sou assinante desta exemplar revista de conhecimento sobre diversos seguimentos de Segurança e Saúde do Trabalho. Mas quero parabenizá-los por esses conteúdos que ela nos proporciona. Muito Obrigado