Parece que foi ontem que o PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS – PPRA – chegou em nossas vidas. Lembro-me com clareza onde estava, o que estava fazendo quando um colega chegou e trouxe a NR 9 – que na opinião dele iria revolucionar a segurança e saúde no trabalho. Lembro direitinho o entusiasmo dele – sim entusiasmo aquele estado de espirito otimista. Disse algumas coisas, fui chamada de pessimista e depois tivemos mais de 20 anos para confirmar o que falei.
Lembro também da chegada da 18001 e de tantas outras coisas que para aqueles que navegam por águas rasas e acham que as soluções estão nas coisas – sempre foram motivo de esperança em um futuro melhor. Quem me conhece sabe que não sou pessimista, muito pelo contrário, no entanto para mim o otimismo precisa ter alguns fundamentos e mais ainda quando diz respeito a algo que conhecemos bem.
Estamos ai diante do Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR e por toda parte há gente falando sobre ele. Há também outros seres entusiasmados, alguns deles descobrindo algumas décadas depois as bases mínimas de um gerenciamento de riscos – gente quase lendo a Norma Regulamentadora nº 1 sem ainda ter feito a leitura mais completa da Norma Regulamentadora nº 9 – que se despede sem jamais ter sido.
Não há muita diferença entre dar um carro básico ou um carro mais sofisticado para uma pessoa que não entende bem seu uso. E as diferenças que existem são preocupantes porque um carro mais sofisticado tem potencial para causar mais danos, tem mais botões e comandos que se acionados de forma incorreta pode acontecer muitas coisas e além de tudo isso qualquer coisa que ocorra causa danos com custos bem maiores. Com isso quero dizer que quem não aprendeu o PPRA certamente vai ter a mesma conduta com o PGR – e pelo andar da carruagem, pelo o que temos ouvido e visto – em muitos casos não teremos mais do que um PPRA OBESO e por ser mais a pesado e maior – com grandes dificuldades para se movimentar.
Nos – área técnica – temos uma grande dificuldade de trabalhar na direção da resolução e por isso – entre outras coisas – temos uma tendência para “engordar” a nossa burocracia, os nossos trabalhos e quase tudo que fazemos. Amamos os canhões – mesmo sem balas – para resolver aquilo que um canivete de escoteiro daria conta. Custamos e afirmamos que aquilo que fazemos reduz custos e poucos – muito poucos – se dão conta disso.
O que temo no PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS não é qualquer outra coisa que não seja o fator PST – profissionais de Segurança do Trabalho”, que em boa parte seguem ainda enfeitando o pavão sem saber na verdade o que fazer com o bicho. O que temo é essa coisa de olharmos para o lado, para a gestão a vista, para a apresentação feita em uma sala confortável – e tudo isso pouco ou nada representando a realidade dos locais de trabalho. Como sempre digo a famosa Segurança com S de sensação e não S de solução. As justificativas, das justificativas…..
Claro que todos nós queremos que o PGR dê certo – passei uma vida toda sonhando com um modelo de gerenciamento melhor e mais completo e que trata-se de todos os riscos de uma forma mais completa. Mas isso não quer dizer que deixei de lado a capacidade analítica, que acho que isso será algo que vai ocorrer naturalmente ou será simplesmente uma mágica.
Existe uma frase antiga – dessas muitos comuns na área de segurança e saúde no trabalho que diz: ACIDENTES NÃO ACONTECEM – ACIDENTES SÃO CAUSADOS. E com certeza uma breve adaptação dela pode ajudar muito; PREVENÇÃO NÃO ACONTECE – PREVENÇÃO É REALIZADA. E é justamente esse ponto que me preocupa, porque já vejo por todos os lados e cantos a preocupação de criar o mais completo e perfeito documento – novos e bons tratados sobre a teoria – mas pouca preocupação com a praticidade e a capacidade de executar das pessoas e organizações. Seguimos com a cabeça formatada para a isenção da responsabilidade pelo papel bem feito e desconhecendo que existe a possibilidade e necessidade de fazer diferente, de realmente modificar as condições de segurança nos locais de trabalho.
Antes de pensarmos na sofisticação pensemos na funcionalidade. Antes de agregarmos dados e mais dados, pensemos em como fazer com as que as pessoas possam transforma-los em utilidades. Antes de pensarmos em SST como sempre pensamos, vamos lembrar da finalidade dela e trabalhar nessa direção.
O blog SST na Prática apresenta informações importantes para os profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho. O autor Cosmo Palasio de Moraes Junior é Técnico em Segurança do Trabalho com diversas especializações. Colunista e membro do Conselho Editorial da Revista Proteção. Diretor do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho do Estado de São Paulo. Fundador e moderador do Grupo SESMT. Auditor, Consultor e Instrutor com atuação em diversas organizações, entre elas, Volkswagen, WEG, GERDAU, Vale, Suzano e SABESP. Autor do Livro Dia a Dia da Prevenção e consultor do Manual de Segurança e Saúde no Trabalho.
[email protected]
Excelente!
Texto muito bom! Vai na ferida, sem rodeios.
Eu não acompanhei o ínicio da NR 09, já embarquei com o bonde andando, mas, concordo, o que se vê na prática é isto mesmo.
Ainda mais num período onde o Ministério do Trabalho foi reduzido a uma Secretaria dentro do ME, onde as garantias e conquistas dos trabalhadores são atacadas de frente, os agressores nem mesmo usam máscaras, como acreditar, que, justamente neste periodo, a gestão ganhará espaço sobre a burocracia do papel bem enfeitado, do software que resolve tudo?
Pois é estimado Cosmo,
como sempre muita gente enfeitando o pavão, vendendo canhão e vivendo de sensação, porém, esquecendo – por ignorância ou por interesse – de fazer o básico, bem feito, planejado, pegando o canivete de escoteiro e utilizando com a maestria do cirurgião, que vai no ponto exato.
Lembro também, com a euforia do otimista, quando em 1994 vieram o PPRA e o PCMSO, com suas inovações legislativas e técnicas, mas, que logo depois eram vendidos “por cabeça”, por pessoal de nossa própria área.
Se não mudarmos o fator PST qualquer mudança, por mais positiva que seja, será explorada mais por seus aspectos monetaristas do que prevencionistas. Daqui, vamos seguindo na luta.
Paz e Bem.
Concordo plenamente com esse artigo. A necessidade de melhorias conceituais e de praticidades no campo da prevenção são enormes, mas nunca foi levada a sério, haja vista, o grande número de oportunistas juntamente com o corporativismo que fizeram dessa da área um “meio de vida”. Nunca se vendeu tanto papel camuflado de PPRA e PCMSO. Pasmem, nas redes sociais já existe muitos desses com um estrutura toda montada para seu negócio… e a gestão continuará nas gavetas sem que haja um profissional para adotá-las de verdade.
Espero estar enganado mas se formos “meninos, agiremos como tal”.
Eu discordo de quase tudo que foi postado pelos demais colegas, quero pedir desculpas não querendo ser o dono da verdade mas apenas expor minha opinião, afinal sou um técnico de segurança do trabalho em busca continua da melhoria. E seguindo esse raciocínio de busca de melhoria é aqui que quero entrar: por muito se falou que a segurança do trabalho estava defasada, incrédula e sem objetivos concretos e com certeza isso era certo. Aí quando se pretende fazer algo a respeito também está errado? Acho que temos é adquirido um espírito crítico por vícios de sempre ter que criticar algo mesmo que esse algo seja aquilo que estávamos buscando. O conceito de gestão é aplicado em grandes empresas já sem mesmo existir a NR 1, tudo que ali está já é feito pelas grandes, só que agora virou norma, o que tem de errado nisso? Pode dar errado ? Sim, mas a culpa continuará sendo nossa por permitir que as coisas continuem la nas gavetas, mais aí não é culpa do sistema. Acho que será diferente sim, acredito que um passo foi dado em direção a uma segurança do trabalho mais profissional e acertiva. Como disse: com respeito aos grandes de nossa área, minha humilde opinião!
Boa resposta, Eder Nunes. Concordo com sua opinião.
A velha guarda e a dificuldade com o novo. Quem hoje em dia não encontrou algum tipo de dificuldade ao utilizar um PPRA ou LTCAT de décadas atrás, conforme o caso, para realizar um PPP e se deparou com informações incompletas ou mal avaliadas por profissionais “práticos” e que hoje tem dificuldade de trabalhar com informações completas.
Olá Proteção, gostei muito do seu material.
Você profissional, NÃO FIQUE PARA TRÁS, Seja VOCÊ um profissional atualizado.
Acesse esse link e saiba como:
https://bit.ly/tudosobrePGR